sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Ele Nunca Me Bateu!

#Humanidade:

Prólogo:

Esse artigo nasceu, inicialmente, com objetivo de atingir mulheres evangélicas e /ou católicas, visto estarmos nos dedicando a estudar e trabalhar com a temática da violência doméstica nesse grupo especifico. Mas, o texto pode lembrar sua amiga, sua parente, até você mesmo, em relações heterossexuais ou homoafetivas. E, também homens podem passar por relacionamentos abusivos. Estima-se que 14% de homens passam por violência doméstica, da qual a principal é a violência psicológica.

A Autora!

Ele Nunca Me Bateu...
                                                
Talvez você tenha ouvido essa frase de uma amiga, de uma parente, da mulher que congrega na sua igreja ou quem sabe você mesma tenha dito esta frase: “Ele nunca me bateu”. Mas, você já perdeu as contas das vezes que ele fez com que você se sentisse inútil e burra.

No início sempre é tudo tão lindo. Resposta as orações. O rapaz, o homem de Deus, dedicado na igreja, frequentador assíduo das atividades eclesiásticas, a família se alegra, a igreja e o pastor também. E você não se contém de felicidade com a sua “benção”. Por isso, quando ele briga com você por causa de suas amigas e amigos, você não se importa, afinal são demonstrações de ciúmes, coisa que passa. Então, ele reclama da sua roupa, do seu cabelo, do batom que você usa. Bobagem, zelo de um homem sério nas coisas de Deus. Se você é extrovertida com seu grupo na igreja, ele começa sutilmente a mudar isso em você, afinal você namora com ele, é um namoro sério, agora você ficou noiva. O compromisso é sério. Talvez não diga nada, mas, a cara emburrada no final da programação e no caminho de casa, faz com que você não queira de forma alguma “magoá-lo” e para a felicidade de vocês... Você muda.
Então vocês casam. Tudo tão perfeito. Lua de mel, primeiros meses de casados. Se você trabalha fora, ele reclama do seu trabalho, quer a casa arrumada, mas, ajuda pouco ou não ajuda em nada. Você engordou, ele faz questão de mostrar isso. Agora você não tem mais tempo para sua família, afinal você está casada, precisa dar conta da casa, dele e de suas “obrigações de esposa”, e é claro das obrigações eclesiásticas, principalmente o acompanhando.
                                          
Se você reclama, enfrenta, ele lembra o quanto te ama, que ele assumiu um compromisso com você, casou com você, afinal, você devia ser grata a ele, de tantas moças na igreja, ele escolheu você! E que você nunca deve esquecer que o cabeça da família é ele. Isso é bíblico. Você lhe deve submissão.

Com o tempo se torna mais agressivo. Nunca te bateu. Mas, já te espancou com palavras. Tudo em casa que dá errado é por sua culpa. Sumiu algo? Foi você. Algo está fora do lugar? Foi você.
Você levanta da cama e não recebe um bom dia: recebe reclamações sobre a casa, a comida ou qualquer outra coisa. Quem vai imaginar aquele homem agradável, de orações belíssimas, grande líder, pregador, cantor... Um “varão de Deus” é um tirano que lhe tortura dia e noite, há anos, psicologicamente, a tal ponto que você passou acreditar que realmente é aquela mulher sem valor algum que ele tanto diz.
Você não tem coragem de pedir oração. O que vão pensar dele? Vai conversar com o pastor e ele diz: “irmã tem que orar mais. É o temperamento do seu marido. Ser mais dócil, mais meiga. ” “A irmã tem que rever seu comportamento, se ele reclama tem algum fundamento. ”
                                                     
E você já fez todas as orações. Todos os jejuns. E dizem para você orar mais e suportar a “sua cruz”, “o sofrimento como Jesus”. Ser mansa e abnegada e o Senhor a recompensará.

Você já se tornou depressiva, já explodiu em doenças psicossomáticas. Tem ansiedade e pânico. A família que vê de longe acha que está tudo bem. Casamento perfeito. E todo mundo acha tudo tão perfeito, que você começa a achar que está maluca, que realmente você é o problema e continua a cair no seu poço de culpa e depressão.
Não, você não está louca! Você é vítima da mais covarde e silenciosa violência doméstica existente: a psicológica. Não deixa marcas no corpo. Deixa marcas na alma. Você deixou de ser você para ser uma marionete manipulada.
Então, você acorda. Quer sair daquilo, ele ameaça seus filhos, vai sumir com eles e você nunca mais os verá. Ele não sabe viver sem você. Ele não tem para onde ir. Você é tudo em sua vida. Ele vai se matar. Ou, você é incapaz de viver sem ele. E você fica por causa dos filhos. E você fica por causa dele, coitado! E você fica com medo de ficar sozinha.
Ele nunca te bateu....



Entendimentos & Compreensões

Das percepções de 
Candida Maria Ferreira da Silva
Assistente social, teóloga, especialista em Infância 

e Violência doméstica pela UFF, palestrante.

Rio de Janeiro - RJ
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