terça-feira, 9 de fevereiro de 2016




Palavras Iluminadas!

“... No fundo de um buraco ou de um poço,
acontece descobrir-se as estrelas...!”.

                                                                                                           Aristóteles.

 Em um dos sete, famosos e sagrados, livros da Bíblia, em Provérbios 15:7: está escrito: “As palavras dos sábios espalham conhecimento; mas o coração dos tolos não é assim.(...)".
Em um de nossos últimos encontros falamos sobre: “Os Pontos de Vista e os Discursos”. Na ocasião colocamos a diferençação entre ambos e a verdadeira necessidade que temos, nos dias atuais, de ouvirmos boas palavras. Sábios proferindo-as. Seres iluminados com suas bocas cheias de luz... Mas, infelizmente, cada vez está mais raro espelharmo-nos em grandes sábios. Eles parecem não existir mais.
Ledo engano: Apenas para os olhos desatentos, desavisados e cérebros acostumados à repetição.


Eles existem. Poucos os veem e mais raros ainda os escutam.
Uma amiga, de iluminação gigantesca, contou-me sobre uma cerimônia de casamento, no início deste novo ano, na terra de Cassiano Ricardo, São José dos Campos, São Paulo.
Ah, somente em um lugar onde nasceram sábios continuam os mesmos a andarem por lá.
Fiquei duplamente feliz, faceiro como o rio-grandense do sul gosta de dizer,
Primeiro por ser terra deste escritor, poeta e pensador do início do século passado a quem tenho grande admiração. Ele junto com os Andrades e meu amado poetinha gaúcho, Mario Quintana e outros criaram a famosa Semana de Arte Moderna, para adentrar no século, recém-iniciado, com literatura e sabedoria.


O casamento, em que minha amiga foi convidada, foi de excelente bom gosto. Ao ar livre, e de um tempo chuvoso, abriu-se em luminosidade enfeitado por um por de sol magnifico como que para abençoar mais uma união de dois seres lotados de amor.
Extremo bom gosto em todos os detalhes. Cerimônia organizada com esmero. Por gente que valoriza os pequenos detalhes.
Mas, pulo aqui, os detalhes tão ricamente observados por minha amiga, para a parte do cerimonial dos noivos.
Ela me conta extasiada:
Os noivos, lindíssimos, felizes e a sua frente um cerimonialista (independe aqui o ritual se é religioso ou não).
Após as palavras tradicionais para esta ocasião, começa um ritual inesperado, diferente, único, e com uma lição tão grande quanto deve ser o tal ser, que utilizou as palavras e esta cena que tento lhes descrever.
Ao final, para a troca de alianças, o cerimonialista diz:
- É tradicional, na união de dois seres, que um casal de crianças, em tenra idade, traga as alianças para os noivos. É um sinal de começo, de inicio, de uma nova vida juntos...Mas não será assim hoje:
Os convidados ficaram curiosos, visto que a oratória perfeita levava-os a um contexto já esperado. E eis a surpresa.
O cerimonialista diz:
- Hoje para estes dois jovens que se unem para uma existência juntas, peço que recebam as alianças deste outro casal...


Faz um silêncio estratégico, uma pausa muitíssimo bem definida... E de espera:
Os olhares dos convidados começam a procurar: O que de diferente este homem estaria fazendo? Por que mudar uma tradição tão antiga? Que novo modelo estaria mostrando?
As perguntas colocadas são minhas, ao ser levado ao contexto da narrativa de minha amiga. Mas certamente deveriam estar nas mentes dos convidados.
Naquele momento, após a pausa. O cerimonialista diz:
- Hoje solicito que este outro casal traga as alianças.
Todos os convidados viram-se em direção a entrada da cerimônia e começa uma emoção sem descrição... Nada daquilo era esperado em mais uma cerimônia de casamento... Tantas quantas outras.
Na entrada, ante o tapete que levava aos jovens noivos, prostra-se enganchados um ao outro, outro casal.
Ele com 91 anos e sua mulher com 81 anos...


E prossegue o cerimonialista.
Que é um novo inicio um começo para estes dois jovens todos sabem.
Mas o que queremos desejar e que eles levem para suas vidas é o exemplo. Este que é o melhor educador de qualquer relação.
O tempo.

Eles estão juntos há mais de 70 anos... Mais de meio século de união, de cumplicidade, de testemunho de vida de cada um, de uma verdadeira afinidade. Eis o símbolo mais profundo e perfeito do amor. A existência de ambos.
Recebam – continua o cerimonialista – Meus jovens, as alianças de um exemplo de vida juntos. Recebam o símbolo da união de um símbolo vivo do que pode ser a vida de vocês a partir de agora.
Levem, não somente nas alianças, mas na imagem que estão testemunhando hoje o que pode ser uma vida a dois... Uma vida juntos. Uma vida onde o amor supera qualquer obstáculo. Para isto foi criado o casamento. Ele é filho do amor e da incondicionalidade.
Agora imagino eu a cena:
Os noivos boquiabertos garanto que não esperavam tal surpresa verem indo ao seu encontro os símbolos de sua união trazidos por uma união que se tornou símbolo.
Os abraços e as lágrimas de felicidade, de emoção, creio eu, a esta altura, deve ter contagiado todos os participantes, como contagiou a mim na narrativa.
O pensador pré-socrático Pitágoras deixou dito cerca de 500 aC: “... Os homens são miseráveis, porque não sabem ver nem entender os bens que estão ao seu alcance...!”.


Utilizo outro adágio gaúcho: Tiro meu chapéu tchê, para este homem sábio que conduziu tal cerimônia.
Ele não apenas foi o mestre de uma festa de casamento. Ele foi simplesmente um ser iluminado que deixou, penetrado profundamente em cada coração presente, uma sabedoria de vida fantasticamente necessária. Não somente para o felizardo casal de noivos e os participantes, mas para todos nós mortais, orgulhosos, pretensiosos, arrogantes de que tudo por já ter sido dito, basta repetir e se tornar apenas mais um...
Eis um sábio a quem dedico meu mais profundo respeito e admiração.
Quiçá todas as uniões, em seus cerimoniais, tenham o privilégio de ter um cérebro iluminado assim.
É tudo o que desejo aos novos casais...
Pensar não dói... Já deixar exemplos... É para poucos!




                                                              Entendimentos & Compreensões
                                           Das narrativas de minha sábia amiga Goiana
                                                             Reny Martins – Goiânia – Goiás –
                                                                  Arquivos da Sala de Protheus

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