quinta-feira, 3 de setembro de 2015


#SOSEducacao:

A Pedagogia brasileira!

... Ou, modismo pedagógico?

- IIª Parte -


“...Todo sistema de educação é uma maneira política de

manter ou de modificar a apropriação dos discursos,

com os saberes e os poderes que eles trazem consigo...!”

 

Michel Foucault

 

Como Piaget, Vygotsky não formulou uma teoria pedagógica, embora o pensamento do psicólogo bielo-russo, com sua ênfase no aprendizado, ressalte a importância da instituição escolar na formação do conhecimento. Para ele, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. Ao formular o conceito de zona proximal, Vygotsky mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente, "puxando" dela um novo conhecimento. O psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o universo mental do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico.
Desse modo, o aprendizado não se subordina totalmente ao desenvolvimento das estruturas intelectuais da criança, mas um se alimenta do outro, provocando saltos de nível de conhecimento. O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus principais conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender – potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto.


Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um professor precisa ter, segundo Vygotsky.
Para pensar:
Vygotsky atribuiu muita importância ao papel do professor como impulsionador do desenvolvimento psíquico das crianças.
A ideia de um maior desenvolvimento conforme um maior aprendizado não quer dizer, porém, que se deve apresentar uma quantidade enciclopédica de conteúdos aos alunos. O importante, para o pensador, é apresentar às crianças formas de pensamento, não sem antes detectar que condições elas têm de absorvê-las. E você? Já pensou em elaborar critérios para avaliar as habilidades que seus alunos já têm e aquelas que eles poderão adquirir? Percebe que certas atividades estimulam as crianças a pensar de um modo novo e que outras não despertam o mesmo entusiasmo?
“Todo aprendizado ocorre por meio de signos.”
O processo comunicativo é fundamental à cognição. Aprendemos comunicando, e comunicamos aprendendo. Mesmo sem querer, comunicamos (por meio da linguagem corporal, por exemplo). Mesmo sem querer, aprendemos, todas as vezes que participamos de uma cadeia sígnica. Estamos no mundo nos comunicando e aprendendo. Os objetos à nossa volta e dentro de nós produzem diálogo constante, constante processamento, constantes produção de signos. Quando vamos ao cinema, aprendemos alguma coisa em nossa leitura do filme. Se o conteúdo apreendido é eticamente interessante, é outra questão. Se assistirmos um acidente, um fato trágico, ao conversarmos nos bar, na Igreja, no olhar vitrines. Estamos sempre aprendendo. A diferença com o conhecimento proposto pela instituição escola, ou pela universidade, é que a universidade procura conduzir o caminho de aprendizado, com objetivos claramente pedagógicos. Ir ao cinema pode parecer mais agradável, pois vamos quando queremos o que é importantíssimo: o afeto inicia qualquer relação de aprendizado – o que não me afeta, não atinge minha mente, não formará signo. Ir à universidade pode parecer obrigação, mas ali o sujeito é exposto a conteúdos de uma área que escolheu para estudar e para agir profissionalmente. É fundamental que haja algum afeto.


Na escola, portanto, procura-se o conhecimento sistemático, induzido. Aqui os objetos estão disponibilizados para quem puder e quiser entrar em processo semiótico, cada um de acordo com suas possibilidades, de acordo com seus signos prévios. Quanto mais exposição ao processo, quanto mais aumenta o capital de signos disponíveis, maior possibilidade de aprofundamento em determinada área, maiores as possibilidades de estabelecer relações entre os objetos. Entenda-se, contudo, que para a semiótica, onde ocorrer comunicação há aprendizado. Há aprendizado onde houver ação do signo. Com esse entendimento, podemos ampliar a noção de processo educativo, e talvez mudar alguns de nossos parâmetros. Na sala de aula convencional, toda vez que ocorrer comunicação, ocorre aprendizado, sempre de acordo com o capital disponível de cada um e também de acordo com o afeto dado e recebido no processo. Com isso, nota-se que há tantos ritmos de aprendizado quantos forem os posicionados como alunos – professor inclusive. Por que insistir na importância do afeto? Porque o afeto conecta-se à primariedade, categoria fundamental de todo processo semiótico. Sem esse sentimento de algo que nos toca não se efetua o processo sígnico completo. O professor tem grande responsabilidade na condução do processo comunicativo/cognitivo, porém o aluno também é agente, é sujeito. O aluno não é passivo, não deve ficar a espera de um conhecimento pronto. O professor atua como um signo intermedeia os objetos do mundo ao aluno, ambos produzindo conhecimento nesse processo semiótico. “Os três aspectos: mundo, aluno e professor estão envolvidos no processo, em uma trilha de conhecimento”.
 

 

Das análises do mestre Nelson Valente

Prof. Universitário, Jornalista e Escritor

Santa Catarina – SC –

Exclusivo para a Sala de Protheus

Referência:

(SILVA, A. C. T. da. A perspectiva semiótica da educação. Revista Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 11, n.3, p.259-267, set-dez. 2008).

(VALENTE,Nelson. Não adapte. Adote. O livro do professor. Intermedial Editora, 2009, São Paulo).

(______________. Elementos de Semiótica – comunicação verbal e alfabeto visual. Panorama Editora, 1999, São Paulo).

 

 

 

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