quinta-feira, 30 de abril de 2015


#HistoriasVividas:

 

A Nata da Lama...

 Pelo curto tempo que você sumiu
Nota-se aparentemente que você subiu
Mas o que eu soube a seu respeito
Me entristeceu, ouvi dizer
Que prá subir você desceu
Você desceu
Todo mundo quer subir
A concepção da vida admite
Ainda mais quando a subida
Tem o céu como limite
Por isso não adianta estar
No mais alto degrau da fama
Com a moral toda enterrada na lama


Clara Nunes – Lama (Mauro Duarte)

                                       Estávamos em pleno horário de recreio, quando a “doce” Irmã Gilda, responsável pela Disciplina da Escola São Teodoro na Vila Maria - SP, nos disse: “Crianças, vão para casa. Nosso Presidente Vargas morreu e estamos em Luto Nacional. Rezem pela alma dele”. Uma “dispensa escolar” sempre seria comemorada com um alarido infantil, mas não nesse dia. Todos passaram pelas salas de aula, recolheram seu material escolar e saíram ordeira e silenciosamente. O momento era grave.
                                     Todo dia, papai trazia embaixo do braço dois jornais: A Gazeta Esportiva e a Gazeta e a disputa da prioridade de leitura com meu irmão era sempre pela Esportiva. Ele para ver notícias do seu São Paulo FC e eu do meu Corinthians, mas não nesse dia. Minha avidez era por “notícias da política”, pois queria saber mais da “morte do presidente” e nesse dia a manchete do jornal, da qual não lembro bem, dizia algo como: Getúlio suicidou-se ou Getúlio, matou-se.

                                    Foi nos dias seguintes, que começaram a aflorar na imprensa maiores detalhes, nomes e fatos, confundindo sua percepção na minha cabeça infantil. Carlos Lacerda, Gregório Fortunato, Major Vaz e Rua Toneleros e principalmente a expressão, que mais marcou minha memória: “mar de lama”.
                                  As oligarquias política e econômica sempre foram pilares xifópagos do poder e por isso a “defesa mútua de interesses” tornou-se uma norma institucional desde o início dos tempos e não poderia de estar presente no Brasil desde os tempos da Colônia.
                                  Entretanto, segundo as palavras do próprio Getúlio pouco antes do seu suicídio ao saber da venda de uma fazenda da sua propriedade, através de uma procuração dada a seu filho, (Manoel Vargas), para seu “guarda costas” Gregório Fortunato: “Osvaldo (Aranha), está confirmado. Debaixo do Catete há um mar de lama. O Maneco chegou e confirmou que vendeu a propriedade”.

                                 O “Anjo Negro” segundo sua renda não tinha capacidade financeira para a operação, mas a “confiança cega” de que desfrutava por ser a “sombra e a mão do Presidente”, favoreceu seu enriquecimento ilícito. Neste episódio é importante pontuar, que Getúlio vendia sua fazenda para fazer frente às “dívidas de Campanha” e que era o candidato quem usava seu patrimônio pessoal para suportar sua ambição política. Eram outros tempos e os conceitos de moralidade política eram ajustados a extremos, se necessário, como ocorre até hoje em países como o Japão, por exemplo.
                                 Contudo, apesar do “simbolismo extremo” do exemplo de Getúlio, parece que o começou a prevalecer foi o “enquadrilhamento” do exemplo de Gregório e a tolerância ao “mal feito” tornou-se, cada dia, mais elástica. Ainda que não se possam imputar a Juscelino os enormes esquemas de corrupção sabidamente ocorridos na construção de Brasília, nenhum cuidado extra foi tomado quanto ao “bom uso do dinheiro público” ao se edificar a nova capital no tempo recorde de 5 anos. Foi quando se estabeleceu a “hegemonia das construtoras”.

                                 A consequência principal é que o fenômeno que já havia abatido Getúlio, (péssima situação da Economia e inflação), acabou por contaminar o Governo Jânio Quadros/João Goulart e isso associado às “malcheirosas práticas políticas” estimulou a assumir o Poder, quem há muito o vinha sustentando: o Exército de Deodoro e os Tenentes alunos da Academia Militar do Realengo a partir de 1920, nacionalistas defensores de uma Hegemonia Sub Continental.
                                  Já durante os Governos Militares, dado a imensa quantidade de obras de hidrelétricas, estradas, grandes obras de arte e ferrovias já se fazia presente um “cartel informal” de construtoras, visto serem poucas as com efetiva capacidade de encarar os “megaprojetos” em curso e com isso a prática de corrupção de agentes públicos, aliás, uma prática comum em todo o mundo, mas que alguns países começaram a coibir fortemente. Haja vista o caso de um vice-presidente americano Spiro Agnew, (Richard Nixon), em 1973, forçado a renunciar.
                                 Com o retorno do poder aos civis em 1985 e dos “elásticos acordos” de governabilidade a “política tradicional” retomou em mãos as velhas práticas de favorecimento e as denúncias de corrupção voltaram ao primeiro plano do palco político. E as construtoras também.
                                Uma coisa que qualquer Técnico em Edificações sabe é que obras dependem de três fatores principais: conhecimento do local e do projeto, planejamento da obra e aplicação de materiais adequados. A Engenharia Brasileira sempre foi reconhecida pelo seu padrão de criatividade e qualidade não só relativamente aos aspectos técnicos de execução, mas também de conhecimento de materiais adequados.

                                    Os “desvios imponderáveis” na execução de projetos relativamente ao planejado são sempre passíveis de ocorrência, porém a “barrigada técnica” também tem um “limite de tolerância” o que coloca esses eventos em parâmetros aceitáveis e insuspeitos.
                                  Outra coisa que qualquer Executivo sabe é que a corrupção é uma prática impossível de ser evitada. O desafio é mantê-la controlada em níveis mínimos toleráveis, mediante a adoção de um planejamento técnico preciso, sistemas de controle de medição da execução e auditoria técnica dos materiais empregados e principalmente “quadros técnicos” competentes no Governo para fazer respeitar o ”dinheiro público”.
                                   Uma coisa que espanta no Brasil é a frequência de repavimentação das vias públicas nas cidades brasileiras. A cada chuvinha lá vem asfalto novo. Fico imaginando o que se passa nos Fundos de Pensão e Empresas Públicas. Melhor não.
                                 Não é de estranhar por todo o seu “histórico republicano”, que o Brasil chegasse ao ponto de “refinamento da lama” em que chegamos hoje. Era tudo uma “questão de audácia”...
                                E convenhamos, audácia é uma coisa, que nunca faltou aos “assaltantes políticos” brasileiros de todos os tempos e especialmente ao PT nestes últimos 12 anos.



 
Exclusivo para Sala de Protheus
Das pesquisas & Vivências
Entendimentos & Compreensões
De Antonio Figueiredo
Escritor e Cronista
São Paulo – SP
 

terça-feira, 28 de abril de 2015



#AnaliseLiteraria:

 

Os Grandes Que Estão Entre Nós! -
Á Zinah Alexandrino
 


“...Ninguém escapa desse inimigo
antagônico do ciclo da vida que permeia
nossas horas (o tempo)....!”.

 

Zinah Alexandrino

 
                          Tenho anjos que me iluminam de forma diferençada. Explico: Eles insistem em me presentear, no mínimo uma vez por semana, com o melhor dos presentes para mim: Um Livro!
                          Receber um livro é abrir as portas do coração de seres especialíssimos que colocam em palavras o que lhes vai à alma.

                          Temos falado das perdas, principalmente no ano que passou de grandes mestres brasileses da literatura, chamada de regional, mesmo que sejam conhecidos no mundo todo:
Meu amadíssimo Rubem Alves, mineiro da Boa Esperança, João Ubaldo Ribeiro da amada Bahia, Itaparica, e Ariano Suassuna, da não menos amada e linda Paraíba, para não fazer disto uma “nota de falecimento”.
Ficamos mais pobres? Sim ficamos.

                         Mas vamos falar dos que estão vivos, produzindo obras belíssimas e utilizando as palavras para amaciar e tornar melhor nossas vidas: Adélia Prado, Mineira de Divinópolis, e minha admiradíssima autora do rico regionalismo a cearense Zinah Alexandrino.
                         Como sou suspeito por ser um apaixonadíssimo pelo rico e fantástico regionalismo brasilês, aumento meus itens em tão singela relação.
                        Mas falar de Zinah é simplesmente ir a fundo ao riquíssimo e vasto cenário cultural regional do Brasil.

                        Grandes nomes que fazem sucesso no Mundo inteiro? Ora isso seria redundância e quase uma pobreza, pois foi construído pelo marketing... Sim!  - O famoso meio de aumentar algo a ser visualizado e vendido pelos americanos – tanto que não temos tradução ou versão para nossa amada língua portuguesa brasilesa até hoje – passa simplesmente a ser estudo de mercado. E como mercado é gente, pessoas, logo...

                          Ao receber pela primeira vez, por sugestão de amigos uma obra de Zinah Alexandrino que não conhecia ao menos para mim era o primeiro chamava-se: Sutilezas.
                          Ah, as amadíssimas sutilezas que os brasileses às vezes têm dificuldade de saber o que significa, mas utilizam, sobremaneira.

                         Literalmente proprietária de um romantismo especial e único, coloca todas as outras “sutilezas”, estas que encontramos no dia a dia e vai mais fundo buscar a afetividade... Muitas vezes até o místico através de sua poetização.

                          Foi desta forma que esta iluminada escritora do amado nordeste chegou aos leitores...

                          Agora para nos deliciar e mostrar seu encantamento, sua superioridade iluminada de ser elevado nos traz simplesmente um livro de contos: A intenção do Silêncio, pela Editora Premius, nos últimos dias de 2014.


                            Obra maravilhosa, ainda fresquinha, recém-saída da editoração me é presenteada pela própria escritora e com dedicação o que me deixa mais efusivamente e envaidecido ainda.

                           Esta obra fantástica, digna de autores de primeiro mundo ou de todos os mundos, afirmaria, tem uma dedicação especial e nas palavras dela... “Ao filho amado de minha segunda primogenitura Fausto á quem é dedicado esta obra divina”.
Primeiro:

Fausto: Sim o que nos leva a Fausto é um poema trágico do escritor alemão Johann Wolfgang Von Goethe.

                       Logo após este acarinhamento efetuado à sua obra genética e muito humana Zinah deixa para o leitor um aviso de Roland Barthes:
“... A ciência é grosseira, a vida é sutil e é pra corrigir
essa distancia que a literatura nos importa...!”
                       Ah, os grandes quando são humildes e julgam que estão indo buscar outros maiores... No fundo seus iguais...

                      A obra divina e simplesmente apaixonante traz vinte e quatro contos.
Eis a riqueza que tanto admiro e comento do regionalismo brasilês.

                      Esta divina autora, graças a Ele, ainda entre nós, faz das palavras e do ambiente em que está um mundo de histórias dignas de serem apenas chamadas de encantadamente maravilhosas...

                    Esta mulher, esposa, mãe, escritora de forma tão convincentemente fantástica e iluminada e, sobretudo, uma educadora que me lembra, de imediato, Rubem Alves.

                    Todos seus contos e historias são lúdicos. Todas elas nos ensinam. Todas nos mostram caminhos e nos mostrando nos fazem ver nosso melhor.
Você está em dúvida?
Sim, afirmo estou falando de uma grande escritora da língua portuguesa brasilesa e do meu amadíssimo nordeste.

Ah, Nordeste... Como tu produziu filhos pródigos, cultos e que nos mostram caminhos que devemos seguir e em os seguindo sê-los como eles, melhores...
Ah, Nordeste tão “usado” pelos politiqueiros, tão maltratado pelo restante do Brasil durante tanto tempo, que esquecemos as verdadeiras riquezas que lá estão para melhorar cada um de nós em tudo...

                      Zinah Alexandrino é um destes seres amados, divinamente nordestina a quem tenho uma admiração e quase idolatria pelos seus escritos.

                      A singeleza, a simplicidade e por sua vez a complexidade que coloca suas palavras chegam a todos os seres... Até os que aprenderam a ler ontem... Mas tem recados subliminares fantásticos como na página 39: São apenas 10 linhas em três parágrafos e lá diz tudo:
Chama-se “Confissão”:
Emocionou-me pela forma colocada de chegar à alma.
Diz Zinah:

“... Preciso confessar-te... Estou apaixonada!
É um amor contido, calmo, esperançoso, desses que acalantam os sonhos mais indeléveis...
Lembras, quando viajaste, no mês passado, para Nova Friburgo? Fiquei tão sozinha! Não havia com que compartilhar este sentimento novo, que brotara em mim... Eu só pensava em te dizer...
Espera não me faças essa cara de bobo abismado, porque não é por ti; tu és apenas meu melhor amigo; é pelo teu melhor amigo...!”.

                       Como buscar livros e todo tipo de escrito de autores de outros países tendo esta riqueza nacional?





Como não ler... Não se apaixonar por palavras construídas na alma, filtradas pelo coração e lançadas por uma mente tão genial, genuína, humana e superior como Zinah e preferir autores que nem sabemos o que são e o que querem além de nosso dinheiro?

                      Se te parecer pretensioso, por favor, perdoa-me: Mas permita-me fazer-te um pedido: Como gaúcho utilizo-me da mesma maneira que esta amada e brilhante ESCRITORA nordestina a segunda pessoa, tão natural para nós do Rio Grande do Sul:

                       Por favor, tchê, acorda... Acultura-te vivente... Lê mais... Busca esta riqueza divina e maravilhosa que temos aqui... Poderás tu, me julgar ufanista... Não ligo, Porém te digo: Temos gente, buenacha, gigantescamente maravilhosa neste Brasilzão de meu Deus, taura para ler ao trabalho que te dás buscando nomes complicados até de falar e dizem palavras que não são nossas... Acorda tchê!

Aligeiras-te que o mundo não para... E ama... E lê o que temos de melhor...
Nos, aqui do Rio Grande, ainda estamos tristes pela perda de nosso poetinha Mário Quintana... E vocês do nordeste tem tantos gênios que chego a ficar com certa inveja... Como esta grande prenda Zinah Alexandrino...

Comovo-me só de falar... Quando leio suas histórias me escondo da prenda, pois lágrimas me vêm aos olhos de tanta emoção que esta guria lá do nordeste distante me causa...

Só posso-te dizer vivente:
Aproveitas o que temos de tão fantástico... Por favor?
Leia as obras de Zinah Alexandrino... E depois nós conversamos.
Ah, como é bom termos Zinah´s entre nós...

 

 

 

Entendimentos &Compreensões
Das inspirações desta grande escritora
Zinah Alexandrino – Do Nordeste para o Mundo
De sua obra presenteada:
A Intenção do Silêncio – contos –
Editora Premius – CE – 2014.
Publicado em
http://www.konvenios.com.br/info/verArtigo.aspx?a-id=26388 

domingo, 26 de abril de 2015


#PensarNaoDoi:


O Convite!

 
“...Só são verdadeiramente felizes aqueles
que procuram ser úteis aos outros...!”

Albert Schweitzer


                                Que surpresa inesperada, chegou um convite, não qualquer convite, um convite para jantar no palácio de um Sheik, o convite em papel de seda e letras de ouro é nominal, isso mesmo, seu coração pula de emoção é para você! Você, Sim, você!

                                Há tanta coisa para fazer, o dinheiro curto não dá para comprar um Prada ou um Armani, o negócio é dar um jeito e alugar um vestido de noite, deslumbrante, um terno de corte e caimento perfeito. Há sim e as joias! O cabeleireiro para fazer um penteado primoroso, as unhas com perfeição. Sim, nessa noite terás que ficar deslumbrante. Afinal, um homem riquíssimo, fino, da realeza ao convida para jantar! Depois de tanta ansiedade chega o dia. A limusine negra, estonteantemente linda para à porta de sua casa, os vizinhos vem olhar, curiosos e você não pode se conter de tanto encantamento, ah sim... Orgulho manda uma tchauzinho para a vizinha chata e, claro, faz um Self entrando na limusine.
                                   Dentro dela, bebidas caras, champanhe de verdade (até aqui você só tinha visto sidra e champanhe de segunda), petiscos. Os bancos acolchoados de couro puro, ar condicionado e na frente um condutor silencioso e respeitoso lhe conduz ao aeroporto. Oh, Deus! Um avião a sua disposição! Tão elegante quanto a limusine. Poltronas em couro branco, uma aeromoça sorridente lhe recebe, o capitão vem lhe cumprimentar. Tudo somente para você. E o avião decola e você olha tudo tão pequeno lá em baixo, as nuvens no céu e o sol que se põe em resplendor, a impressão é que tudo, tudo, é somente para você. E não seria? Porque não seria? 

                                  Encantada você olha o palácio, seus jardins de conto de fadas, suas salas de arcos feitos de ouro, o luxo chega ser luxuriante. Você olha muitas pessoas convidadas, celebridades, ricos, políticos. Parece o tapete vermelho de Hollywood. Fica tonta de tanta beleza, flashes são disparados a todo o momento, e você pensa que saíra nos jornais. Será que estou bonita? Sim, está, mas, se compara aos outros, bate aquela insegurança. Sempre parece que alguém é mais sarado, tem o cabelo mais perfeito, os olhos mais claros, a boca perfeita da Angelina Jolie... Porque não sou, nem um pouquinho, parecida com ela?
                               O salão de jantar se abre e todos entram, você se assusta um pouco, pessoas tão finas agora se atropelam querem sentar próximo à cabeceira da mesa, onde certamente o bilionário sheik sentará. Você está encantada, porcelana chinesa antiga, talheres de ouro? Taças de cristal! As pessoas querem mostrar o melhor de si, ninguém naquela mesa quer “ficar pra trás”, homens de negócios falam de seus lucros, políticos de sua influência e poder, celebridades de sua fama, intelectuais demonstram toda sua inteligência e você não pode ficar de “boba”, entabula uma conversa inteligente, quer mostrar que também é relevante. Ora afinal de contas você está naquele banquete também.

                                A comida finíssima é servida, todos comem, bebem e conversam cada vez mais se exibindo uns aos outros, afinal eles são uma elite, um tipo de gente diferenciada que recebeu o convite do sheik. Que você nota não apareceu ainda. Mas, você espera logo chegará. Sabe como são esses bilionários e suas excentricidades. Chega a hora da sobremesa, olhares espantados se detêm sobre o servente, somente agora os convidados e você se dão conta que o servente é o sheik, desde o início ele estava ali, servindo todos à mesa. Mas, bem, gente rica tem dessas coisas. Se fosse pobre era maluco, rico é excêntrico!
                                 Então, o sheik para de servir e vem em sua direção. Um silêncio toma conta da mesa, de todas as pessoas naquela mesa o sheik vai logo falar com você? É isso mesmo, falar com você? Sim!  Olhares invejosos são lançados sobre você, dá para sentir como flechas transpassando seu corpo, você fica rubra? O sheik se aproxima lhe sorrir e então lhe diz: “Gostaria que se despisse de sua tão elegante roupa, de suas joias, desfizesse seu primoroso penteado, vestisse as roupas de serviçal e servisse a mesa comigo.” 

                             O que? Há um murmúrio, sorrisinhos. Você fica em choque. “O que?” o Sheik amavelmente faz o convite.

                             Qual a sua resposta? Talvez você pense: “esse homem não respeita minha posição social?” “Esse homem não sabe o quanto inteligente e sábio sou?” “Esse homem está a debochar da minha beleza?” “Esse homem não respeita meus cabelos brancos?” “Esse homem não sabe que político poderoso eu sou?” “Ela não sabe da minha fama?” “Está fazendo isso só porque sou mulher?”.
                             Mas, ele insiste amavelmente no convite: “Você poderia despir-se de toda sua elegância, suas joias, desfazer seu lindo penteado, e vestir-se como um serviçal e servir a mesa comigo?”.
O convite está feito: qual sua resposta?


Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve.
Lucas 22.27


Entendimentos &Compreensões de
Candida Maria Ferreira da Silva
Assistente Social, Teóloga, Especialista em Infância
 e Violência Domestica pela USP. - Rio de Janeiro – RJ -
Candida é autora do Diárioblogcontosrecontos.blogspot.com.br 


sexta-feira, 24 de abril de 2015


#DasMinasGerais:

 “A Vila!”

                                        Tempos idos naquela pequena Vila. Circos, touradas, marionetes, ciganos, congados, festas religiosas quebrando o silêncio, a rotina da pequena população.

                                      Mulher barbada, coisa incrível. Palhaço com perna de pau à tardinha, “hoje tem, hoje tem? Tem sim senhor... E o palhaço que é?”, a meninada saltitante, acompanhando, respondendo às perguntas. Tempos bons que por desconhecer a realidade traziam sempre alegria ao povoado.Marionetes se apresentavam na Praça do Cruzeiro. Um casal, filhos e amigos bonecos que sempre davam algumas dicas de modernidade, de política ali desconhecidas. “Eu passei em Cubatão”! Ao que a boneca respondia: “Eu passei batom...”, “Não passei!”, “Não passei mesmo”, dizia ela. “Eu passei foi no meu beiço... bem vermeio pra ficá bunita igual a fia do Sr. Antônio”.  “O quê? Você será bunita iguar as fia dele...!?”



- “Claro que fico. Eu sou bunita e vou ficar mais ainda quando cortá o cabelo bem curtinho, vesti carça esporte...!”
- “Nisso ocê tem razão. A carça cumprida é bão dimais da conta. A muié pode montar no cavalo que não aparece parte ninhuma e nóis homi pode ficar assussegado.”

- “Bobo, não é só por isso. A carça não deixa arranhá nossas canelas. Cabelo curto é mais facim de lavar, pentiá, de fazê tôca, colocá o rolim. Com a suadeira da roça, o sol ardeno, ajuda nóis. Num é só as artistas que merece boa vida. Temo que trabaiá também no conforto...”
- “Mais num é? Pois concordo com ocê... Num adianta o cabelo ser grande e fazer aquela pituca.”



                              Vinham os cabelos loiros com água oxigenada. Quebras de tabus. Não os Tabus da famosa marca de cosméticos, do “pó de arroz”. O riso continuava, tanto na praça, quanto no circo e muitas vezes vinha o frio na barriga com os malabaristas. Artistas que nunca frequentaram nenhuma academia. Palhaços arrancando gargalhadas.
Os sustos durante as touradas. As adivinhações, casamentos de ciganos, seus tachos de cobre, dentes de ouro. Aquele cheiro forte de cavalo, misturado com o suor humano. “Cuidado, cigano rouba criança e moça bonita!”


                                 Dia de missa, Vila cheia, festa, visitas, novidades nas “vendas”. Chicletes Ping-Pong, balas de goma, bala Juquinha. Vendia-se de quase tudo. Animais com os balaios lotados de mandiocas, mexericas, laranjas, tangerinas, frutas-pão, jacas, jabuticabas. Sentava-se em qualquer lugar, debaixo de uma boa sombra para alimentar seus filhos, muita farofa ou iam para casas de parentes e amigos. As moças da roça procuravam ler ou saber um pouco dos cantores, os novos cortes de cabelos, moda, da revista Recreio. À noite, a Vila ficava vazia, o silêncio, todos dormiam. Dia seguinte muito trabalho. Volto à Vila onde nasci. Ainda tem circos, mas já não são mais a mesma lona. Agora não se falam mais em marionetes ou touradas. A Internet chegou lá. A Vila mantém quase que as mesmas casas, mesmos lugares, a mesma parentela que vai nascendo e crescendo. Estradas... Lembranças...



                                  Matas fechadas que moradores preservam. Lagos, rios... A velha represa continua lá. Ninguém se deu conta da sabedoria daquele homem, engenheiro nato, que pela Vila tanto fez. Mas não era ele quem trazia aquele povo do circo, as marionetes, as touradas e ciganos cedendo terreno? Não era ele o Juiz de Paz?  Ficou no esquecimento. Já não há lembranças dessas coisas. O que foi são vagas recordações, sem muita importância. O circo mudou de cor. Marionetes com indumentárias diferentes. Ciganos vão e voltam em quadriênios e já não usam o mesmo acampamento. Não se escuta mais o trotar de seus cavalos. O cheiro é outro, os dentes não são de ouro. Não carregam tachos de cobre.
                                      A Vila se modernizou. Facebook e outras redes sócias chegaram. Eletrodomésticos de qualidade. Chegaram também os assaltos, o desassossego, os muros em volta das casas; perigos que antes eram apenas de algum réptil, das aranhas caranguejeiras.

                                    O perigo tem nomes que apenas se liam nos livros “As Mais Belas Histórias” (Lúcia Casassanta), quando a meninada sentava e ficava pensado o que faria o justo Ali Babá com as pedras preciosas retiradas da caverna dos quarenta ladrões (?). Ainda pensavam o que elas fariam se encontrassem o lendário tacho cheio de ouro no fim dum arco-íris? Não sei, acho que chamaria a minha mãe, porque é pesado.Hoje Ali Babá tem outra aparência, o arco-íris tem outra simbologia. Novos significados e palavras: “quadrilha da capital”, “traficantes”, “crack”, “estupros”, “de menor”. Mas quadrilha não era aquela dança de caráter religioso? A Vila assiste a novelas, fica sabendo da vida de famosos, acreditando que eles compram tais revistas e leem. Vibra com as ’estórias’ do meio artístico. É “moderna”, mesmo com toda a sua beleza natural, que se encontra pelos caminhos estreitos, estradas; os pássaros, os fogões a lenha, as minas, córregos, pontes rústicas. Os mata-burros; porteiras.



                                   A Vila continua jovial. Não precisa passar batom. Mas o circo tem a cor aterrorizante como o susto das touradas. O povo tem medo da cor, medo de sapo, do novo Ali Babá e dos quarenta ladrões que podem chegar a qualquer momento e tomar suas propriedades. Medo da cor das bandeiras esvoaçantes em seus estandartes, foices, machados, facões a tilintar no ar. Já não é o mesmo circo anunciando o espetáculo noturno. As marionetes são a Vila. O palhaço não usa perna de pau pra sair às ruas. Usa terno e gravata. E a cor lá está, a cada quadriênio, que mesmo sendo rejeitada é escolhida pelas urnas eletrônicas e não pela Vila. Urnas mortuárias. Receptáculos de morte da democracia.



                                  Vila de tantas belezas, banhada pelo Rio José Pedro, de tantas lembranças e desejos mil. Quem dera chegasse progresso até você de Norte a Sul, Leste a Oeste e não mais ficaria agarrada em atoleiros. Ai de ti pequena Assaraí, que deu fuga, passagem a negros, índios que escapavam de invasões das terras dos Botocudos e Coroados, ficando somente o catequizado índio Pokrane. Mas, que agora precisa ser vigilante com os circos dos horrores que se atraem a ti, com os caminhos dos modernos desbravadores empunhando consigo nomes incomuns, significações perigosas.
A Vila perde a cor!
Definitivamente, há certas coisas que não passam; dão passagem, puerilmente.
Assaraí não tem um significado certo, podendo ser Rio das Garças ou mesmo Passagem como no início. E que passe logo! 













  Exclusivo para a Sala de Protheus -
Da memória Lúdica de minha amiga mineira:
 Marilene Marques, Mineira, nascida na Vila de Assaraí,
Município de Pocrane, Região do Vale do Rio Doce, MG,
Aposentada, trabalha com voluntariado social.
Adendo: Cito a inesquecível Bala Juquinha em homenagem
 à nossa querida irmã Odélia, uma das ex-professoras
da Escola do Cantinho do Céu.