quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

 
As histórias vividas do
escritor Antônio Figueiredo
na Sala de Protheus:

Trair e Coçar...!
Você pagou com traição
A quem sempre lhe deu a mão
Você pagou com traição
Chora, não vou ligar 
Chegou a hora 
Vai me pagar
Pode chorar, pode chorar
É, o teu castigo
Brigou comigo
Sem ter porque
Vou festejar, vou festejar
O teu sofrer, o teu penar
Você pagou com traição
A quem sempre lhe deu a mão
Você pagou com traição
Mas chora!
 
Beth Carvalho – Você pagou com traição

                                     A Geografia do Brasil é rica em referências à “traição”. E para se mencionar umas poucas, temos o Capão da Traição da Guerra dos Emboabas onde “tropas portuguesas” trucidaram “bandeirantes mineradores paulistas” em Minas Gerais, a Baia da Traição na Paraíba onde os índios potiguaras trucidaram uma expedição de Gonçalo Coelho e a Usina Elevatória da Traição em São Paulo no Rio Pinheiros, próxima ao Córrego da Traição.

                                      O Córrego da Traição situa-se onde hoje está a Avenida dos Bandeirantes e era um lugar onde “bandoleiros” atocaiavam as “tropas de burros”, saídas de Santo Amaro e destinadas à Vila de São Paulo. Entretanto parece, que o nome deveu-se a um “ajuste de contas” entre dois sócios portugueses. Conta a “tradição”, que ali, em memória do fato, existiu uma “Padaria da Traição”.
                                       Entretanto, com certeza a História Futura do Brasil haverá de reservar um capítulo a ser ensinado nas escolas e muitos milhares de livros nas bibliotecas sobre estes últimos 30 anos. Jamais se perpetrou em nossa “lista de traições” alguma do quilate da que a “classe política brasileira” tem cometido contra a cidadania durante este tempo.
                                         Há poucos anos uma peça teatral Trair e coçar é só começar foi sucesso de público e crítica, pois fala com fidelidade da forma que o brasileiro encara a “infidelidade”, aquela traição que até bem pouco atrás somente era suportável com a “lavagem da honra com sangue”. Felizmente isso hoje não encontra mais amparo jurídico, mas por outro lado levou à banalização do “conceito de honra” como um todo.
                                     Nos tempos atuais a “fidelidade compulsória” é obrigação exclusiva do “contribuinte”, que mensalmente “encosta o umbigo no guichê do caixa” para cumprir sua “submissão tributária”. Já da parte dos nossos congressistas, que deveriam diariamente “encostar o umbigo na tribuna” para defender nossos interesses e dinheiro pouco se espera, ou pior, nada se exige.
                                       A “confiança” constrói-se como uma daquelas catedrais da Idade Média, que pelas limitações do conhecimento da Engenharia, levavam até séculos para serem construídas e consagradas. Entretanto, um pequeno erro de cálculo ou uma face mal lavrada de uma das pedras angulares da sua estrutura era o bastante para jogá-las ao chão, normalmente fazendo muitas vítimas e colocando em dúvida a competência do arquiteto.

                                      Esse é o momento que atravessamos hoje. Levamos muitos anos para perder nosso “complexo de vira-latas”, como nos definia Nelson Rodrigues, para decorridos 50 anos retornarmos a condição de “matilha de lobos” no inverno, cada qual defendendo exclusivamente seu “osso”, já que o “filé” é inalcançável para a maioria, posto que é privilégio de poucos dos encastelados no poder.
                                   Tem sido a nossa incrível indulgência com os deslizes dos nossos “favoritos”, que tornou flácida nossa tolerância. A cada nova pequena concessão abrimos mão do nosso direito de regrar e vigiar o seu comportamento e hoje se comportam como amantes infiéis consentidos, a quem demos a “carteira de bons maridos”.
                               Desde sempre, todo e qualquer tipo de relação baseou-se no “fator confiança” e isso se aplica com maior força e abrangência nas relações interpessoais individuais ou grupais. Nas interpessoais individuais, como em um casamento, esse fator é de mão dupla sob os critérios pessoais de cada uma das partes, exclusivamente.
                                    Já nas relações interpessoais grupais esse fator de confiança, quando deixado à deriva coletiva, é multifacetado pela multiplicidade de partes e suas idiossincrasias, onde nem todos são aprovados ou rejeitados e daí a dificuldade de se encontrar um “mínimo denominador comum”, que torne unânime esse “fator de confiança”.
                                     A sociedade brasileira hoje encontra-se pulverizadamente dividida, tanto ideológica, como socialmente e por isso o que agrada a alguns, necessariamente irá de encontro às aspirações de outros e isso não permite uma “opinião homogênea” e bem assim o encontro de um “fator de confiança coletivo”. Existem duas massas fortemente confiantes de prós e contras, mas que não são majoritárias. A grande maioria é uma massa amorfa sem opinião definida e que portanto deixa de pesar ou pender para qualquer lado.
                                    Fala-se muito em abertura de um processo de impeachment da Presidente Reeleita, que é um processo eminentemente político. Mas como avançar nele se o resultado das urnas recentemente apresenta essa divisão tão parelha? Com certeza, não será o exclusivo embate político, que definirá sua possibilidade, mas sim a dissecação de toda a avalanche de suspeitas que cobre os mandatos do PT nestes últimos 12 anos.
                                  Qualquer decisão política não respaldada em “fatos comprovados” processualmente, representará um “golpe contra a Democracia”. Já se ocorrer ao final dos processos por evidente apuração de culpa, ou pela “mínima apuração” de responsabilidade, será decorrente da dissidia no trato da “coisa pública” ou prevaricação e aí será a “lei”, que fará pesar sua “mão forte e pesada”.
                                  Que se cumpra a lei. Contudo, não à forma “varguista” dos anos 30, quando o “próprio ditador” assim se expressava: “A lei? Ora a lei ...”. Somente o “império da lei” constrói “confiança” e faz com que os “caminhos e atalhos” sejam opcionais para todos igualmente, pelo lado “bom” ou pelo “mau”.
Que fiquemos “vermelhos de vergonha” e não de nos “coçarmos”, porque então estaremos “começando a trair” as gerações futuras.
Nossos netos e os filhos de nossos netos...

 
Entendimentos & Compreensões
Antônio Figueiredo –
Escritor & Articulista –
São Paulo – SP

 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


Quatro Dias Comigo!
 “Nunca me senti só.
Gosto de ficar comigo mesmo.
Sou a melhor forma de entretimento
que posso encontrar...!”
Charles Bukowski

                               Consegui! Passei quatro dias desconectada das redes sociais, entrando, apenas em horas previamente determinadas, para checar se os filhos viajantes haviam chegado a salvo a seus destinos.
                              Em uma dessas entradas encontrei um pedido de postagem do meu trabalho – pois é, trabalho com redes sociais – mas não considero o projeto inutilizado, já que entrei rapidinho, fiz o que me foi pedido, e saí do ar antes de poder dizer “Mangueira”!
                              Eu estava sentindo falta dessa pausa há tempos; fui uma criança da década de 1960, criada à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. As palavras vinham dos livros, poucas casas tinham televisão, éramos obrigados a imaginar o que não podíamos ver.
                             Para a minha cabeça de menina tudo tinha um sentido oculto, misterioso. O sol que batia nas águas, no final da tarde, eram as fadinhas dançando depois de um dia de trabalho; a abertura de uma rocha no alto de um morro, a entrada para a Gruta dos Três Martelos; passei horas a fio procurando a entrada para o Reino das Fadas entre a vegetação das margens do que foi o meu parquinho na primeira infância.
                          Hoje, quando a terceira idade é um trem desgovernado vindo em minha direção – como diria minha filha - , não tenho mais espaço para imaginar muita coisa, a realidade se impõe de maneira muitas vezes chocante em minha rotina.
                             É tanta informação, a maior parte delas arrasadora, que chega antes mesmo do café da manhã, que minha cabeça vive cheia de palavras que não são minhas. Na hora em que sento para escrever não me encontro, em meio a tantas citações e palavras de ordem.
Resolvi usar os feriados para dar um tempo e ver se ainda conseguia existir, fora das redes.
                                 O primeiro dia foi duro, a vida virtual está tão entranhada em mim que a sensação de tédio, de não saber o que fazer com meu tempo, quase deu cabo do projeto. Acima de tudo senti uma sensação terrível, como se o mundo estivesse vivendo sem mim, como se as crises estivessem acontecendo sem que eu estivesse lá para resolvê-las. Hummm... anotação mental: estar presa às redes faz um mal danado ao meu ego. Não sou onipotente, o mundo sempre se resolveu sem a minha humilde contribuição.
                              No domingo eu já estava melhor, hoje estou ótima. Não tenho a menor ideia do que aconteceu no Brasil e no mundo desde sexta (13), mas em compensação li dois livros ótimos, meditei, dormi até acordar, brinquei com meus cachorros, vi a chuva cair no jardim e não tirei o carro da garagem.
                              Como nada de novo anda acontecendo ultimamente, tenho certeza que, amanhã, quando abrir os jornais, não demorarei muito para saber dos últimos roubos rebatizados de malfeitos; o país continuará tentando sobreviver a seus governantes e o mundo, tentando ignorar as atrocidades cometidas pelo EI, até que ele bata à sua porta.
                            Tudo isso acontecerá amanhã, mas hoje, apenas hoje, minha cabeça está livre, cheia apenas com meus pensamentos e sonhos, exatamente como quando eu era menina; quando não havia internet; quando as fadinhas dançavam ao pôr-do-sol nas águas da lagoa; quando não se degolavam crianças ou queimavam pilotos ao vivo; quando era possível ser feliz...
 
Das Crônicas de Uma Vida
E Sentimentos de Beatriz Ramos
Jornalista & Cronista
Brasília – DF

 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Uma Noite Em Silêncio!
 "...Há noites que eu não
 posso dormir de remorso
por tudo o que eu
deixei de cometer...!"
 
Mário Quintana – Poeta e escritor gaúcho.

                                 Ali estive entre várias pessoas.
                                Ano novo e uma nova vida! É o que se fala. É o chavão da sorte. As coisas velhas e até o ano que se foi, se tornaram obsoletos. 
Recomeçar é a palavra de ordem!
                                   A ceia estava animadíssima. Vozes partilhavam seus projetos, intentos, um passeio, estudos, enlaces, mudança de vida, emprego, negócios, tudo ao despontar das primeiras horas daquele novo ano.
Pessoas de várias classes sociais e financeiras.
                                Algumas realmente gostam de mim, outras sabem que existo e outras ignoram, não fazem o mal e nem o bem.
                             Ali estive, alimentamos da mesma iguaria.
Que apetitosa ceia e ainda nos deliciamos com a sobremesa.
                         Assentamos a mesma mesa, cadeiras, bancos, brincadeiras, sorrisos, flash. Ali estive olhando as pessoas se fotografando.
Ali estive e vi um jovem, muito alegre.
                          Fotografou uma pessoa ao meu lado e uma criança quase encostada em mim. Um senhor chegou e disse: tira dela também...
Sem muita vontade, o jovem tirou uma foto que nunca vi.
Ali estive e vi meus amigos conversando, brincando, rindo.
                            Outros posavam para fotos e convidavam a muitos.
E eu ali. Não fui notada senão por poucos, inclusive por aquele senhor 
que falou para também fotografar-me.
                            As pessoas passavam por mim e foi como se eu estivesse invisível.
Cumprimentos, as pessoas não ouviam, não viam.
Fiquei  até o final. Estava curiosa para aprender um pouco mais sobre o comportamento humano.
                           Nada mais tive por fazer senão a observar uma festa, movimentos, atos. Não sofri por isto, apenas vi como somos muitas vezes fúteis, até mesmo em lugares e épocas especiais. Forçamos alegrias que não existe, mantemos aquela sensação de bem estar que nos leva à perdição, ao flagelo interior.
                              Temos que sorrir, blindar, cantar, aplaudir!
Um garoto conversou muito comigo. Despediu-se. O outro estava muito cansado. Brincou demais. A mãe deles não me notou. Eu despedi e as crianças responderam. A mãe me ouviu? Se ouviu, também nada respondeu.
Não fiquei alegre e nem tão pouco triste com a grandeza da festa.
Não posso ainda dizer se é bom ou não ser uma pessoa notada.
Depende da necessidade momentânea de cada um!

 
 
Dos Entendimentos & Percepções da minha
amiga Mineira Marilene Marques
Mineira, nascida na Vila de Assaraí, Município de Pocrane, Região do Vale do Rio Doce, MG, Aposentada, trabalha com voluntariado social.

sábado, 21 de fevereiro de 2015


#SOSEducacao:

 Ah, Educação... Saudades de Ti!
 “...Todo jardim começa com uma história
de amor, antes que qualquer árvore seja
plantada ou um lago construído é preciso
que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro,
não planta jardins por fora e
nem passeia por eles...!”

 Rubem Alves

                      O meu admirado autor acima, Brasilês de alta estirpe, costumava dizer mais: “... A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar...!”.
                    Não é mero saudosismo, mas tudo. Sim tudo na atualidade remetendo, a quem teve esta chance, esta perspectiva real de uma verdadeira educação e instrução em níveis de aprendizado completo.
Primeiro uma separação que falamos sempre:
Educação vem de casa. Sim começa e termina em casa. O que você levar depois para evoluir em atitudes, modos será uma definição de teu verdadeiro caráter. De tua persona. De personalidade.
Vamos pelo básico:
                            Todo mundo com mais de trinta anos (lembrei-me da música da Elis Regina) sabe que sentar a mesa para uma refeição em casa, era um verdadeiro ritual. Não que com a correria e o tal de “modernismo” hoje não possa ser feito. Mera configuração de uma desculpinha, bem esfarrapada... Para as famílias mais tradicionais, principalmente de origem italianas ou alemãs, um minuto de oração: Os princípios eram mais rígidos.
Claro que não vou aqui dar “aula de etiqueta”. Longe disso. Mas comer frango com as mãos, diretamente, nem pensar. Mesmo que o correto, para saborear frangos, seja com as mãos. Até nutricionistas aconselham isso hoje. Mas tudo tinha certo zelo. Não estou falando de mesas de casas ricas, de endinheirados. Não.
                                   Sou de uma família que hoje seria classe pobre mesmo. Na época poder-se-ia dizer que éramos classe média. Tínhamos casa, carro e estudávamos em escolas particulares, estas mais numerosas que as ditas, hoje, públicas.

                                  Escola, até o final do que hoje é o fundamental, somente de uniforme. E ai de você se o uniforme estivesse sujo ou em desalinho, amassado ou coisas do gênero. Primeiro a vergonha pública. Segundo um “caderninho vermelho” (está ai a origem do meu horror a esta cor) estava sempre a mão dos professores, e se alguma anotação dela não retornasse com a assinatura dos pais. Pronto.
Enfim, prepare-se ou apanha em casa ou fica de castigo na escola e paga um “mico” estrondoso. E as meninas não poupavam quem pagava “mico”. Você certamente seria deixado de lado. Bullying? Frescurinha moderna.
Estas pequenas lembranças, sintetizadas em poucas frases entre a casa e a escola, levam-me diretamente a uma obra de Erasmo de Rotterdam – De Pueris – (Dos Meninos) A Civilidade Pueril. Isto tudo em 1530, século XVI, Renascimento, Humanismo, em época que a educação aprimorada era para poucos, sobretudo para os nobres e príncipes.
                         Sim, enquanto por aqui estávamos nos organizando para ser, algum dia, alguma coisa... Na Europa renascentista já se cuidava dos modos, de todo modo e maneira possível.
E até o final da década de 80, meu pequeno relato inicial, era lei. Levantar da cadeira sem a licença do professor? Nem pensar. Sair de casa sem permissão do Pai ou da Mãe... Esquece.

                                Sair à noite antes dos 18 anos... Só em piada. Pegar o carro do pai sem ter habilitação. Servia para você ficar um mês de castigo com as piores tarefas possíveis e imagináveis. E rapidamente a escola e seus colegas, todos, já sabiam disso.
Talvez ai tenha sido aonde aprendemos a ter a famosa “vergonha na cara”.
Sempre fui, tremendamente, mal nas áreas exatas, principalmente em matemática. E o que fazia: Em época de provas levava rosas vermelhas para minha professora.
                               Um galanteio e uma chantagenzinha inocente, porem cavalheiresca. O amor. A paixão, diria eu, pela Língua Portuguesa Brasilesa, começou cedo com uma professora e continuou, com um mestre nas áreas de comunicação em veículos – rádio, jornal e televisão-, e teve o ápice com um mestre, décadas mais tarde.
Mas de tudo isso uma certeza. O respeito aos mais velhos. Principalmente às mulheres que era cobrado por meu pai de modo bruto. “.. Ou aprende a respeitar uma mulher de qualquer idade ou nunca respeitarão tua filha...!”.

Filha? Eu? Com 10 anos de idade? Risada na certa. (por dentro e escondido é claro). Professor então... Nem se fala. Uma reclamação chegada em casa de desrespeito ao mestre era a pior das torturas que alguém pode imaginar hoje... Era impensável uma ação destas. Nunca.
E digo-lhes mais: Meu amado pai, homem rude, bruto, do campo, que veio para a cidade tentar a vida, tinha apenas o equivalente ao terceiro ano primário. Mas a cultura familiar italiana fortíssima, como se tivesse passado por uma escola de filosofia, a moda dele é claro. Leituras? Não precisava de tema de casa. Era cobrado em casa diariamente. Tabuada. Se não soubesse.. Não almoçava. Simples.
                             Na década de 70, televisão, preto e branco é claro, assistir? Somente se as notas estivessem muito boas e as tarefas da casa estavam completas. Senão... Esquece.
Era um sistema meio “militarizado”. Como fiz o serviço militar posso dizer que não. Mas muito próximo disso. Arrependo-me de ter “saído” de um lugar destes?
Não. Agradeço.
Gostaria de professores, talvez como eu, atualmente?
Na minha época não. Nada saberíamos e nada aprenderíamos.
Foi neste período com professores de fato e não Gramscistas idiotizados ou doutrinas de comunistinhas de Freire sem sentido nenhum. Não, eram à moda antiga mesmo.
                             Ainda tive algum período com latim. Tinha filosofia pura – eis de onde vem à paixão-. “E todas as outras matérias, que eram curriculares, de um MEC fortíssimo e não desta ‘coisa” que leva o mesmo nome hoje.
Estamos vivendo uma época diferente? Sim.
                                Estamos modernizados? Não. Tecnologicamente sim. Humanamente passamos por uma involução, uma desaprendizagem quase completa, chegando ao cúmulo de uma “lavagem cerebral”. Não temos mais a poesia tão propalada por Rubem Alves em sua educação fantástica. E o como diria ele, o professor... Ah este era.... Exatamente assim: “... Mas na profissão, além de amar tem de saber. E o saber leva tempo pra crescer...!”
Onde estão estes mestres?
Confesso: Também não sei...
Pois até para eles pensar dói...
Na verdade, Pensar Não Dói...
Mas este é apenas o meu pensamento....

 

Entendimentos & Compreensões
De uma Época de Aprendizados
Leituras & Pensamentos da Madrugada.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


Et Maintenant
Que Vais Je Faire...
Et maintenant que vais-je faire
Je vais en rire pour ne plus pleurer
Je vais brûler des nuits entières
Au matin je te haïrai
Et puis un soir dans mon miroir
Je verrai bien la fin du chemin
Pas une fleur et pas de pleurs
Au moment de l'adieu
Je n'ai vraiment plus rien à faire
Je n'ai vraiment plus rien...

 E agora o que farei...
 
Eu irei rir para não mais chorar
Eu irei arder nas noites inteiras
Mas na manhã eu irei te odiar
E então numa noite em meu espelho
Verei bem la no fim do caminho
Nenhuma flor e nenhum choro
Até o momento do adeus
Na verdade nada mais a fazer
Na verdade nada mais a fazer

Gilbert Becaud

                                                Sou um privilegiado contemporâneo do Maestro Gilbert Becaud e por tê-lo visto comandando, cantando e fazendo cantar, afinadamente toda a plateia na entrega de um Prêmio Moliérè, que não lembro o ano, Le importante c’est la rose. Porém, minha admiração começou muito antes desde o princípio da divulgação das suas músicas, das quais tinha todos os discos, alguns em 78 rotações, que começou com Et maintenant.
                                   O Monsieur 100.000 Volts, como era conhecido pela energia que passava em seus shows era também o cantor dos “amores desesperados”, talvez por uma forte influência de Edith Piaf, que foi sua grande incentivadora no início da carreira.
                                     Uma tônica em suas canções era o descompasso entre o início fulgurante e o final humilhante dos “amores humanos” feitos de miserabilidade entre a euforia e a depressão. Com certeza, sua juventude passada durante a II Guerra Mundial na qual participou da Resistência Francesa ainda adolescente, levaram-no muitas vezes ao sentimento de “nulidade da vida” pelas perdas próximas de amigos queridos.
                            É a eterna briga entre os “desejos” do coração e a “prudência” da razão humana. A sofreguidão necessária de uma paixão em queda livre e a razão perdida no vácuo de “quand l’amour est mort”. São sempre assim esses “amores desesperados”. Deles lembro-me de muitos e hoje me rio.
                              Uma coisa que eu sempre me disse nas “horas confusas”, é que “hoje tudo está muito enrolado, mas “amanhã” ainda vou rir muito disto tudo... Acalme-se, Toninho”. Talvez Gilbert tenha muito a ver com este meu estoicismo. Afinal, sempre é bom se ter uma filosofia na vida para não se pular dentro do poço. Inconsequente sim, suicida, jamais.
                               A toda e qualquer das grandes desventuras um “grande amor” resiste, mas jamais à sua “menor das mentiras”. O “grande amor” tem passos muito largos. Anda depressa demais e as “pernas curtas” não conseguem acompanha-los.
                               Bem, nesta altura do campeonato muitos dos habituais leitores devem estar se perguntando: o que “este Martha Suplicy de calças”, (aquela dos tempos de Sexóloga da Globo), vem teorizar sobre relações afetivas, nem sempre racionais e normalmente carregadas de desejo sexual, se habitualmente só vem aqui dar “pitacos políticos”?
                                  Explico-me. Nos anos 60 uma peça teatral de Vinicius de Morais e Carlos Lyra, que alguns vão se lembrar, já profetizavam o atual momento político brasileiro com sua Pobre menina rica. Assim como quando Noel Oliveira da Acadêmicos do Salgueiro compôs O neguinho e a senhorita.
                                  Como o “amor” nascido entre a intelectualidade de esquerda moradora de Zona Sul e Jardins, “guerrilheiros democráticos” e “trabalhadores metalúrgicos”, poderia se tornar uma “loucura nacional”, conciliando “paixão, tesão e razão” e ser “um casamento até que a morte os separe”?
                                          Do “casamento prático” parece que de há muito a intelectualidade já pulou fora do barco e com isso foi-se a “razão”. Só restaram as mentiras de amor, a paixão e a tesão, que ao que parece evidente hoje, “agora é cinza, tudo acabado e nada mais” ...
L’amour est mort ... et maintenant, PT.

 
Das lembranças Românticas
De Antônio Figueiredo
Escritor e Cronista
São Paulo - SP