domingo, 29 de novembro de 2015


 

Purgatório!

Se existe um purgatório
lá esta meu coração
não vive mais na terra dos vivos
Mas, não alcançou o céu,
nem o amor e nem a paixão
.

O céu dos amantes é a correspondência,
a cumplicidade
as palavras ditas que nos beijam
o nome desvelado do amor
o abraço perdido
em laços de braços e pernas
que fazem o tempo parar
e espantam a morte.


A terra dos amantes é a procura
o momento do encantamento
o poema inspirado
um beijo esperado
a expectativa do que não é
Mas, pode vir a ser.
E o lugar de uma certa esperança
de uma descoberta
redescoberta....

O purgatório dos amantes é a desilusão
e o amar sem ser amado
a solidão.
É o desejo de voltar a terra se possível
e começar de novo!
Mas, visto que já se está morto
nada mais há a fazer.

O purgatório é lugar da agonia,
da saudade, do desejo, do pulsar amor
e o coração saber que é tudo vão.
Por mais gestos e palavras.
Sejam poemas
E mesmo que nunca ditas
as palavras que beijam
nunca são recebidas.

E o lugar da casa vazia
da esperança morta
das lágrimas escondidas
dos suspiros profundos
de noites sem dia.

Há salvação nesse purgatório?
Não sei.
Só sei que nele há solidão,
Duras realidades, dores vivas.
Musicas que transpassam a alma
e silencio que mortifica.

Não se escapa do purgatório sem interferência divina
Ou até que tudo o que se sente
seja exaurido
até o fim...



Quem sabe ao sair do purgatório se volte a terra
E recomece uma nova história?
Ou sabe-se lá que depois de purgar
todo amor rejeitado
se acabe no inferno do cinismo
dos corações feridos,
desiludidos e maltratados?
E nunca mais se emocione com um verso
Nem com as palavras que nos beijam
Com a chuva que caí na janela?

E tudo seja naturalmente um acaso fortuito
mesmo que nesse acaso os corpos se encontrem
Em abraços contra morte
e no calor do acaso
atinjam suavemente o céu por um instante.
E voltem a terra
E depois nada aconteceu...


E tudo naturalmente volte a ser como antes
Sem lembrança,
Sem versos,
Sem palavras que beijem a boca
Sem emoção do amor
Nem a loucura da paixão.

 

 Dos Sentimentos, Entendimentos & Compreensões de
Candida Maria Ferreira da Silva
Assistente Social, Teóloga, Especialista em
Infância e Violência Doméstica pela USP.
- Rio de Janeiro – RJ -
Candida é autora do Diário
blogcontosrecontos.blogspot.com.br

 

Obs.:
Todas as obras publicadas na Sala de Protheus
são de inteira responsabilidade de seus autores.
O Editor!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Não Chores por Mim, Mariana...


“...Nesta vida, somos apenas hóspedes, aguardando
a última moradia. Cabe a cada um, ter a sabedoria de escolher o melhor lugar. E, o melhor lugar do mundo é aos pés do Salvador...!”


Zinah Alexandrino

Sempre disse, que ainda que paulistano de nascimento tenho em Minas Gerais, minha segunda terra natal e isso porque foi lá, que viajando por todo seu território, comecei a conhecer o “interior brasileiro”. Foi lá também que me tornei “homem”, por obra e graça da “mulher mineira”, que me introduziu nos “mistérios do amor”. Entretanto, gostaria de contar uma breve historieta da minha passagem por lá. Nos idos de 1975 conheci o casal Ricardo Wagner e Elidia, meus vizinhos em Belo Horizonte. Wagner era de Abaeté as margens do São Francisco e Elidia de Senhora do Porto na vertente que dividia as bacias do Rio das Velhas e Rio Doce. Eles tinham um sitio em Afonso Arinos, no Município de Brumadinho, entre a linha do trem que transportava minério de Aguas Claras, (região de Belo Horizonte) e Ibirité, (região de Brumadinho), para o Rio de Janeiro e o Rio Paraopeba, que foi minha introdução à vida rural mineira. Para que vocês tenham uma ideia a Bacia do Paraopeba possui 12.045 km2 de extensão, o que corresponde a 2,5% do estado de Minas, nascendo próximo de Conselheiro Lafaiete e desaguando no Lago de Três Marias. O Rio Paraopeba corria pela mais importante área de mineração de ferro de Minas Gerais, (isso foi antes do evento de Carajás) e por isso constantemente de águas avermelhadas. Nessa época o minério era lavado diretamente nas águas do rio, sem “barragens de resíduos” e assim carregava em suas águas toda a contaminação de barro, além dos minérios associados. A própria Samarco na época já tinha uma mineração na Serra do Ibirité, (divisa de Contagem, Betim, Belo Horizonte com Sarzedo e Brumadinho) e lavava seu minério diretamente no Ribeirão Ibirité, que também desagua no Paraopeba. Durante quase dois anos nossas idas ao sítio eram quase semanais e uma das atividades era pescar. Sempre nos surpreendíamos, que daquelas águas tão poluídas regularmente pescássemos bons mandis, curimbatás e até surubis. O rio que era um dos mais piscosos até o início do ciclo de mineração, resistia e a sua fauna teimava em se adaptar e reproduzir. Caçávamos também regularmente capivaras, que jamais deixaram de habitar suas margens e leito.Foi a partir do Paraopeba, que Wagner me introduziu em toda bacia do Rio São Francisco, incluindo o Rio das Velhas, Jequitai, Paracatu, Prata, Urucuia e Carinhanha e o lago de Três Marias. Foi ele também quem me apresentou a Bacia do Rio Doce, que na época não tinha na sua bacia, ainda importantes, áreas mineradoras, mas que irrigava o Vale do Aço e antes dele toda região de João Monlevade e Itabira onde estavam às siderúrgicas, que evidentemente se serviam das suas águas. As minhas andanças por Minas Gerais, que foram muitas, já há 40 anos, mostrava o “total desprezo” pela natureza. Uma coisa que sempre me assustou em Minas foi o total desprezo pela proteção dos mananciais, seja pela desproteção das nascentes, seja pela eliminação da mata ciliar em todos os rios, indistintamente.  No próprio Cerrado, a exploração do carvão para as siderúrgicas em Contagem, a devastação era geral pela instalação das carvoeiras, eliminando até mesmo a proteção das “veredas” e sua vegetação de “buritis”, que protegiam seus “olhos d’água”, (nascentes de regatos do cerrado), que sempre representaram a sobrevivência da fauna e flora. Foi pela guia do “sertanista mineiro”, meu amigo Paulo Auler, que constatei o mesmo no Cerrado do Noroeste Mineiro em João Pinheiro e arredores na Bacia do Rio Paracatu. Assim como em conhecer os primeiros projetos de irrigação da CODEVASF em Pirapora – MG e o Projeto do Rio Jaíba com as águas do Velho Chico, que recebeu na época investimento recorde de US$ 1 bilhão do Governo Japonês. Amigos, não narro os tempos atuais. Narro o que vi há 40 anos lá atrás. Desolação. Mais recentemente tive a oportunidade de sobrevoar o Velho Chico em Barra, no interior da Bahia e a visão do assoreamento do rio era impressionante, bem como das suas margens totalmente desmatadas. Viajei também pelo Cerrado Mineiro na região de Patos de Minas e ali a visão dos projetos irrigados com águas do Rio Grande dominava a paisagem. Na verdade, com a abertura da Frente Agrícola no Cerrado com projetos irrigados, que vão desde o Estado de Minas Gerais até o Sul do Piauí cobrindo vários milhões de quilômetros quadrados, nos traz a memória a pujança da agricultura do meio oeste americano, com sua riqueza e ao mesmo tempo seus problemas. Por lá o Rio Colorado não consegue mais chegar ao mar, além de que muitas áreas não mais irrigáveis tendem à desertificação. O que acontecerá com o Velho Chico com tantos projetos de irrigação e sua transposição?Alguém, algum dia, calculou os “ganhos e perdas” dessa intensa exploração de terras e rios? Aprendemos alguma coisa como exemplo americano, ou até mesmo com a tragédia do Mar de Aral na Rússia, que simplesmente desapareceu com a exploração predatória da agricultura? Enquanto isso, vamos por aqui chorando pelo desastre anunciado de Mariana. Tão somente porque é o desastre de hoje. Não tenho a menor dúvida que em poucos meses as águas do Rio Doce estarão correndo limpas até a sua foz, a menos que grandes inundações aconteçam em sua bacia e que irão arrastar mais lama pelo seu curso. Assim como ninguém responsavelmente poderá calcular esse impacto em extensão e tempo. Até que ponto esses detritos são tão contaminantes? O Rio Paraopeba sempre chegou com águas cristalinas no Lago de Três Marias. É da tarefa da Natureza, com o filtro natural das suas cachoeiras, assim como faz até com o Rio Tietê em São Paulo, correndo a 150 quilômetros da Capital.Conheço muito bem toda a costa do Rio de Janeiro e Espírito Santo e já há muito tempo todas essas “fozes de rios” tem muito pouca vida e mangues. Para se tiver uma ideia o caranguejo que se come no Nordeste hoje vem de Piauí e Maranhão, pois os manguezais foram devastados por toda a costa. Nossos rios há muito tempo carregam outros tipos de contaminação por poluição industrial e nisso se inclui o Rio Doce. A questão é, o que estamos fazendo para não destruir nossos recursos tão generosamente dados pela Natureza? Vamos seguir o exemplo da China? Enquanto isso não chore por Mariana, mas por tudo o que não se faz por todos os rios e “marianas” de todo o Brasil.

 
Das Percepções & Pensamentos Partilhados
Antônio Figueiredo - Escritor & Cronista -
São Paulo – SP -

 

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