sábado, 31 de maio de 2014


A Mestra em Língua Portuguesa Brasilesa
e Literatura a Mineira Claudia Carvalho
traz mais uma preciosidade
literária para a Sala Protheus:

  

“A Cerejeira e Seus Mistérios!”

 
“... Que é, pois o tempo? Se ninguém me
pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a
quem me pede, não sei...!”.
 
Santo Agostinho


                                       Cerejeiras florescem na alma desencantada do mundo. É a frase que ecoa incessantemente e me inquieta, ao mesmo tempo em que me instiga a decifrar seu significado. Existe um só espírito que rege e leva a humanidade a trilhar caminhos muitas vezes tortuosos e já sem esperanças? Creio que sim! Sem esperança, sem amor, sem gentileza, sem tudo aquilo que nos diferencia de meros matagais e espinheiros.
                                  Mas, mesmo diante deste quadro opaco, sem beleza alguma, sem esperança alguma, ainda restam almas que acreditam e lutam e se doam! E quando tudo remete à morte, à solidão, à rigidez, inflexibilidade, existem almas cerejeiras que, mesmo em condições adversas, surgem lindas, esplendorosas, cheias de cor e encanto! O que seria do mundo, se não fossem as almas cerejeiras?
                                     Considerada uma metáfora para vida, a cerejeira floresce brilhante, sem nunca falhar mesmo diante do inevitável outono, outono no tempo, outono na alma. O florescer da árvore de cereja é a mais pura manifestação de beleza. Flores de cerejeiras são constelações que orquestram uma música oculta, de uma partitura que a muito se perdeu. São sonhos com castelos, com límpidos riachos, brumas esvoaçantes. Enchem as tardes de perguntas e respiram as noites nebulosas.
                                          A alma desencantada do mundo deveria deixar que seu ar enchesse seus pulmões de beleza e esperança. Deveria aproveitar para gritar: - Eu estou viva e quero viver plenamente o tempo que for meu! Deveria se reinventar, deixar que seus pés se transformassem em raízes que se espalhassem por uma estrada luminosa que a levassem até o moinho da própria vida.
 
 
 
                                          Entretanto a flor enfraquece rapidamente e é espalhada pelo vento, esta é a morte perfeita para um verdadeiro guerreiro que viveu com consciência constante, a natureza transitória da existência. A verdadeira alma guerreira vive aprendendo diariamente. O lema samurai da cerejeira é, "Este é um dia bom para morrer”.
                                      Os pensamentos ainda dormem, quando um raio de luz, anuncia a chegada da primavera. As delicadas pétalas bailam no ar e enfeitam o chão, morte linda, que perfuma e deixa seu precioso fruto. A alma agora, meio encantada, metade gente, metade flor do mistério, metade cerejeira. O que estaria trazendo esse novo despertar? Um milagre? Uma renovação na seiva que é agora o próprio sangue do mundo? Belos frutos cor do pecado?
 
                                 O mistério cintila, se desdobra e liberta a alma sem esperança, as pétalas, agora asas, brilham e galopam livremente como cavalos alados. Então saltam consciente rumo a morte certa, não temida! Salta em um  só impulso, em uma dança louca e colorida, rumo a distantes galáxias, nos esconderijos dos ventos, nos casulos do tempo, entre as páginas de um livro, flores secas no redemoinho, na fumaça azulada  dos sonhos, a alma agora, totalmente encantada existe, a cerejeira existe, as estrelas existem, o cavalo alado existe.
 
Nós existimos!

 

Entendimentos & Compreensões
Dos pensamentos de minha amiga
Cláudia Ezídgia de Carvalho  - Minas Gerais -
Licenciatura em Língua Portuguesa Brasilesa
Universidade Federal de Ouro Preto
Mestrado em Literatura Comparada
Unicamp - SP
 

 

quarta-feira, 28 de maio de 2014


Antônio Figueiredo Continua Suas
Histórias dos Anos 60 na Sala de Protheus:

  

MENINOS NA “PAREDE”...!


 
"...Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem...!".

C.D. de Andrade
 

                                   Foi tudo muito rápido. De passagem parei por segundos e estiquei o pescoço por trás e sobre a aglomeração. “Vamos circular... vamos circular...” foi o que ouvi logo após levar uma “borrachada” nas costas. Quem caminhava pelas ruas perto de uma manifestação no início dos anos 60 há de se lembrar daqueles cassetetes longos de borracha usados pela Força Pública de São Paulo, (antiga PMSP) para reprimir manifestações, “restaurar a ordem pública” e “lembrar” da proibição de bloquear a circulação do trânsito já caótico então.
                                 “Meu lombo” guardou essa “lembrança roxa” por pelo menos trinta dias após essa “massagem” no Largo São Francisco e me dei por satisfeito por não ter tido uma costela quebrada, que era o que acontecia com muita frequência. Esses cassetetes flexíveis tinham a capacidade de amoldar-se ao alvo, porém sua extremidade rígida impactava-o com maior violência e ali deixava um grande hematoma ou uma fratura.
                                  O Largo, ainda que pequeno, era o local preferido para manifestações dos alunos da Faculdade de Direito e das estudantis em geral e sempre com gente e carros aglomerados confundindo-se e tumultuando o trânsito, o que deixava uma faixa muito estreita entre o meio fio e a parede nas calçadas para a circulação das pessoas.

                                  Esta semana defrontei-me com uma elucubração fantástica. O que move a pena do escritor? Os fatos ou o acaso? Os fatos por discorrermos e opinarmos sobre os acontecimentos passados, o que ocorre na maioria das vezes, já o acaso sucede porque já pensávamos em escrever sobre um determinado assunto e de repente um fato pontual relativo ocorre e aí a pena não tem como duvidar do rumo e então o tema sai fácil e cristalino. Premonição? Talvez...

                                  Vamos a um pouco de História. Nos anos pós-guerra tornou-se uma tática determinada pela Internacional Socialista em todo o mundo a de se infiltrar e dominar os órgãos representativos do operariado, como forma de propagar a “doutrina soviética”. Isso aconteceu na Europa toda e até mesmo nos USA onde é conhecida, decorrente disso, a atuação do até então medíocre Senador Joseph McCarthy, Democrata a princípio e depois Republicano por conveniência, e sua “caça às bruxas”, (Macarthismo), que pôs sob suspeição toda a “sociedade progressista” americana e em especial o “mundo artístico”. McCarthy foi o “pai ideológico” de Nixon e Reagan.

                                  No Brasil não foi diferente. Assim que no início dos anos 60 os grandes sindicatos de trabalhadores brasileiros e em especial os de São Paulo para minhas considerações, cuja organização vinha se consolidando desde 1945, foram dominados por uma coligação “Comunistas PCB + Nacionalistas PTB” sobre os mais influentes: Metalúrgicos, (Afonso Delellis), Bancários, (Pedro Francisco Iovine), Gráficos, (Giovanni Romita), Estivadores, (Osvaldo Pacheco da Silva) e a CGT, (Luiz Tenório de Lima, o Tenorinho).
                                    Durante o período compreendido entre 1961 e 1963 a atuação do “movimento paredista” foi crescente e cada vez mais forte na sua conotação política. Além da “pauta laboral”, representada por reivindicações salariais e direitos trabalhistas, (reposição da inflação, 13º salário e a universalização sindical abrangendo até o trabalhador rural), começou a crescer a “pauta política” da luta pelas Reformas de Base de Jango Goulart. Apesar da pobreza de estatísticas sobre o “movimento grevista”, só em 1963 foram registradas 172 greves, inclusive várias “greves gerais” no Brasil pelos mais diferentes motivos.



                                    Havia, contudo, um descompasso descomunal entre as reivindicações sindicais na Europa e no Brasil. Na Europa o tema “condições e segurança no trabalho” já era uma pauta superada e ganha pelos trabalhadores, mas no Brasil esta discussão foi saltada. As estatísticas de “acidentes de trabalho”, mesmo que imprecisas, sempre foram assustadoras e a quantidade de acidentes com invalidez parcial, total e mortes no período nunca constou da “pauta de reivindicações” dos sindicatos.
                                   A CLT já contemplava a existência de CIPA’ s, (Comissões Internas de Prevenção de Acidentes), mas mesmo assim os números eram crescentes principalmente na Indústria Metalúrgica, Siderúrgica e da Construção Civil.
                                  Pois bem. Era nessa realidade profissional que os jovens dos anos 60, na sua grande maioria menores de idade, eram lançados nos recintos de trabalho. Com precaríssima informação política doméstica e de seus Direitos e principalmente com as condições inseguras de trabalho constituíam-se nas vítimas incautas e preferenciais da sanha dos patrões ávidos por lucros crescentes e de “manipuladores profissionais” da parte dos Sindicatos. O “jovem operário” tinha que provar sua qualidade, valia e “coragem adulta”.

Vou aqui narrar uma experiência pessoal ocorrida no ano de 1961 envolvendo-me à atividade sindical.
                                 No final do Governo JK os bancos mineiros se tornaram as mais fortes instituições financeiras do Brasil. Afinal, era “mineiro” o núcleo que dominou a construção de Brasília comandado por Israel Pinheiro. Uma caminhada pelas Ruas XV de Novembro, Boa Vista, São Bento e da Quitanda mostrava as placas dos Bancos Comércio e Indústria, de Crédito Real, Hipotecário e Agrícola, Nacional, Mineiro da Produção, BMG e o maior deles o Banco da Lavoura, todos eles de Minas Gerais.
                                  Contava então 15/16 anos e após ter trabalhado por 2 anos como “mensageiro”, (office boy), candidatei-me a um treinamento na Agência Escola do Banco da Lavoura, uma iniciativa inteligentíssima que aproveitava a legião de “menores aprendizes” formados nas Escolas Técnicas de então. Por 6 meses a “escolinha” simulava a operação de uma agência bancária e ao final do curso o treinando era admitido como “funcionário”, com direito a uma Caderneta de Avaliação e Plano de Carreira.

                                 Nos meses de Setembro/Outubro aconteceu uma “greve dos bancários”, cujo acordo na opinião de muitos, aconteceu pela “compra dos negociadores”, (algo parecido com esta Greve de Motoristas e Cobradores de São Paulo da semana passada, daí a premonição). Como a grande maioria das agências estavam fechadas, o pessoal da “escolinha” foi convocado para “reabrir o atendimento ao público”.
                                  Fui designado para a Av. Duque de Caxias e somente depois de estar lá e com as portas abertas é que fomos advertidos, que a “reação da categoria” poderia ser violenta e que correríamos sérios riscos, inclusive de morte.

                                  A recomendação é que em caso de “perigo”, que era evidente, dever-nos-íamos “esconder no cofre” da agência. Éramos “fura-greves” e por isso “traidores” e “lacaios dos patrões”. Não sofri violência em particular, porque nossa agência era mais afastada do Centro, mas várias sofreram “quebra-quebra”, com violência física a vários “alunos da escolinha”.
                                  Esse era o “modus operandi” desses sindicatos e que contava com um exército de “piqueteiros”, que pareciam ser filiados a todos os sindicatos, pois eram sempre os mesmos independentemente da categoria em movimento e era nesse contexto, que muitos jovens eram constrangidos a participar por pressão do Sindicato. É evidente, que era dessa “massa de manobra”, que se contavam a maioria das vítimas.

                                    Da minha parte, preferia ir “descansar em casa” e incentivar meus colegas a fazer o mesmo, comentando o “balanço” de greves anteriores e mostrando-lhes resultados e consequências. Havia uma distância muito grande entre as nossas reivindicações e as reais intenções dos “mentores do movimento paredista”. Nós brigávamos por melhores condições de trabalho e remuneração, eles por “poder político”.
                                   Esta é a história do movimento sindical brasileiro desde seu nascimento na década de 30, a princípio como uma “claque laudatória” à figura de Vargas, que me fez criar a convicção de que a benesse de uma legislação com o atendimento de muito mais necessidades das até então percebidas, só serviu para “matar na origem” um movimento reivindicatório operário em benefício exclusivo dos “patrões”.
                                   Essa tem sido a tática dos “pais dos pobres” desde então: dar uma chupeta, para evitar que aprendamos a mamar no peito, o leite a que temos direito. É a vigilante tutela oficial orientando a vontade popular para evitar que nos “organizemos” e isto vale para os Partidos Políticos também.
                                    Como diz uma propaganda muito atual, sobre o que pensam a nosso respeito: Não sabem de nada... INOCENTES... ORDINÁRIOS.

 
Das percepções e pesquisas de
Antonio Figueiredo – Entre Algum Lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos Sociais Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
 
 

 

 

 

domingo, 25 de maio de 2014


De Pernambuco para a Sala de Protheus
A Última Flor do Lácio por Lady Ratis,       

 

Mosaicos do Além-Mar!


 
(...) “Última flor do Lácio, inculta e bela,
(...) Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...!”

 

Olavo Bilac

          Manancial de doçura, força de expressão, emoção e doçura, a língua portuguesa desembocou em terras brasileiras com outro sotaque, mas aos poucos incorporou uma forma própria, que poetas e escritores souberam dar o devido destaque. Trouxe consigo, além da nostalgia do fado, as tempestades do mar revolto, em dias de ventania. “Mouraria”? “A Canção do Mar” diria que “fui bailar no meu batel...” até do sonho acordar e só a saudade restar.

        Tropical, faceira, encantadora, hermética, desafiadora e envolvente, só não aprecia a Última Flor do Lácio quem for negligente com suas próprias origens, na língua, latente. Riqueza que não cabe em mais de 500 anos de colonização e tão bem decantada por Machado de Assis, Carlos Drummond, Manoel Bandeira, Érico Veríssimo e também por certo João: “Sagarana” é saga que se segue em “Grande Sertão: Veredas” – nesses caminhos que se interpõem nos rincões de um País de raras belezas.    

          Tépida, tórrida, eloquente e surpreendente; claraboia do nascer do sol à sombra dourada do poente – a Última Flor do Lácio é delgada como os contornos de nossa gente. Bailarina, sonhadora, poética e enigmática, costuma chegar ao ápice, plena como a lua cheia, na interpretação marcante de atrizes e atores que têm por hábito deixar na ribalta o ofício de suas veias.
 
         Para muitos, complexa; para outros, avassaladora. Relíquia pouco valorizada pela maioria das novas gerações, guarda nos sótãos da memória a riqueza de sua própria história e promete impressionar quem nela procurar a nascente, a foz e o desaguar do saber interpretar. Saber inglês é fundamental e indispensável, mas deixar de lado a língua raiz é, sobretudo, lastimável.

         Aldeia global, tecnologia, fúria capitalista, sinergia. Abraçá-los e integrá-los às suas referências com cautela e harmonia para não correr o risco de perder a identidade, em meio à polifonia. ‘Vou-me embora para A Última Flor do Lácio’: lá terei o real e o imaginário.

 

Da paixão e dos pensamentos
 De Fabiana Ratis –
Pós-graduada em Jornalismo,  Crítica Cultural pela UFPE
 e escultora de palavras.
Recife – Pernambuco -
        

        

quinta-feira, 22 de maio de 2014


Escritor e Amigo Toni Figueiredo
continua suas Histórias dos anos 60
na Sala de Protheus!

 

A BUSCA DO BOLINHO
DE OVO IDEAL...!
 
 
 

"...O tempo não para! Só a saudade é que faz
     as coisas pararem no tempo...!"
 
Mario Quintana
 
                            Nem sempre em cima dos acontecimentos conseguimos entender as mudanças, que ocorrem em nossas vidas, pois ainda que consequentes das nossas escolhas pessoais nos façam pensar em que apenas cumprimos um roteiro pré-definido, o que muitos chamam: “destino”. É como se as páginas estivessem já escritas por um “ente superior normativo gozador” e que somente para nós não houvesse franqueado a leitura. É evidente que este “emimesmamento” é atual e impensável há 50 anos.
 
                                       “Jovem dos anos 60” ainda não tinha a noção da finitude humana. Talvez a leitura de “heróis românticos” das gerações anteriores, como Michael Gest (Beau Gest – P.C. Wren), Ivanhoe, (Sir Walter Scott), Robin Hood, (Tradução de Monteiro Lobato) e Arsene Lupin, (Maurice Leblanc) tenha-me dotado de um “corpo imortal”. O mesmo que me inspirava à música “Those were the days” de Gene Raskin e gravado por Mary Hopkin, em tradução livre:

Há muito tempo atrás havia um bar
Onde sempre “levantávamos” um copo ou dois
Lembra-se como ríamos por horas a fio
E sonhávamos as grandes coisas que iriamos fazer?
Aqueles eram dias, meu amigo
Que pensávamos que jamais passariam
Cantávamos e dançávamos como se fossem eternos
Vivíamos a vida que queríamos e lutávamos invictos.
Porque éramos jovens e seguros do nosso caminho.

                                          Sou nascido na Vila Maria na Zona Norte de São Paulo ainda no tempo que não existia Jânio Quadros e lá era então um “curral eleitoral” de Adhemar de Barros e seu Partido Social Progressista – PSP, pois como já comentei em outra crônica, lá vivia uma grande maioria de descendentes de portugueses e o “nordestino” ainda não havia gestado o “fenômeno Jânio”. Era dessa “periferia longínqua”, que admirava a “Garrafa de Licor”, (Banespa) e o Martinelli no Centro da cidade e namorava o dia em que livremente por ali caminharia.
                                       Caminhei a poucos dias pelo Centro da Cidade, onde aos 14 anos comecei a trabalhar em busca das minhas referências da época. Escritórios onde trabalhei lojas, bares e cafés, que por lá existiam e que eu frequentava. Passei pelo Largo do Patriarca buscando a “bandinha” do Exército da Salvação, no Largo São Bento a barraquinha do Fogo Selvagem e os vendedores de “óleo de Peixe Elétrico”. Em vão.

                                     No Largo do Paissandu não achei a tenda do Faquir Silk, que diziam que toda madrugada ia comer um “sanduba de Bauru” no Ponto Chic e nem a da Mulher Gorila na Avenida São João. Não encontrei mais os triciclos que vendiam o doce de leite em pedaços de Muzambinho. Não encontrei também os cinemas glamorosos da Avenida São João, Ipiranga, Rio Branco e Conselheiro Crispiniano. E nem tampouco o “Dez Mandamentos” com Charlton Heston estava “em cartaz” há mais de 50 semanas.
                                   Não ouvi o som do realejo e nem vi o perequitinho, que sai da sua gaiolinha para “bicar” o seu “bilhetinho de boa sorte do dia” e até os “fotógrafos lambe-lambe” hoje não se encontram mais em todas as praças públicas.
                                Não encontrei caminhando pelas ruas homens de paletó e chapéu, de todas classes sociais e nem tampouco os cestos de lixo de tela de arame em forma de barrica com a placa: Mantenha a Cidade Limpa e nem as gondolas à porta de bares, que vendiam esfias duplas, salsichas empanadas, bolinhos de carne e de ovo, que cabiam exatamente no “nosso bolso” de “mensageiros”.
                               O “bolinho de ovo” fosse o que tinha um ovo inteiro, ou meio ovo e meio carne encapado na mesma massa de batata frita da coxinha, era o meu favorito, além de ser o mais barato. Bastavam dois bolinhos e um “pingado” de “café preto” como combustível para o percurso matinal, que começava na Praça da Sé, descia pela XV de Novembro e Boa Vista, depois a Florêncio de Abreu até a Paula Souza e depois até a Rua Araújo na Praça da República e de volta à Barão de Paranapiacaba. No “dedão”. Isso tudo por um “salário mínimo de menor”, (1/2 salário mínimo), com a vantagem de trabalhar “meio expediente”. A outra metade estudava no SENAC na Galvão Bueno.
                              Nos “anos 60” começava a se democratizar o acesso aos “ginásios” (5ª a 8ª séries atuais), mas mesmo assim com “exames de admissão ao Ginásio”, uma forma de vestibular, para atender a um pequeno número de vagas, principalmente em “bairros mais periféricos”, quando existentes. Já para o 2º Grau de então, Clássico e Científico da Escola Pública eram em pequeno número e a única opção era representada pelos Cursos Técnicos em Instituições Privadas. (Contabilidade, Química, Elétrica e Eletrônica (manutenção de Rádios e Televisões) e alguns outros poucos).
                             Existiam na época vários cursos superiores por correspondência, destacando-se o da International School, que chegou a ser amplamente aceito pelas empresas, dada a escassez de mão de obra de terceiro grau. Tive um chefe, que era Diretor Industrial no Moinho Santista com essa formação.
                            Esta situação é que todos os anos provocavam dezenas de manifestações de estudantes secundaristas, pois as vagas preenchidas pelo critério meritório de “notas” deixavam milhares de excedentes sem matrícula, ainda que com notas acima do “corte” de aprovação nas Universidades Públicas. O número de vagas era sempre o mesmo há décadas. Essa situação só começou a ser normalizada com a controvertida Reforma do Ensino Superior em 1968, (Acordo MEC-USAID) e com a abertura de inúmeras “faculdades particulares”, pois ainda que com “custo” para o estudante, pelo menos lhe dava acesso a uma carreira de nível superior.
                             Desde então sempre achei injusto o “curso universitário público gratuito”, pois sempre privilegiou, quem já era privilegiado. A escola pública básica era de excelente qualidade e permitia uma competição igual com as escolas particulares, ainda que das mais renomadas, porém o que excluía o estudante das classes mais baixas era a impossibilidade de deixar de trabalhar ou ser bancado pela família nas Universidades Públicas, que normalmente eram de “ciclo integral”.

                              Foi assim que em 1969 prestei exames de Madureza, (Supletivos) e em 1970, já aos 24 anos de idade, com 6 anos de atraso e já um pai de família, consegui, junto com muitos outros da mesma condição, origem e geração fazer um Curso Superior em Economia. Trabalhava de dia e estudava à noite na Fundação Santo André, que a Prefeitura de Santo André - SP subvencionava em 50% o valor da mensalidade, mas que mesmo assim ainda “pesava muito” no meu orçamento particular a parte que me tocava. Não havia financiamento público para essa finalidade.
 
                                        Com certeza o grande motivo da exclusão das classes mais baixas na Universidade Pública, (Medicina, Engenharia e Odontologia), é o fato de o ensino básico nos dois graus anteriores ter sido “sucateado” pelo menor aporte de verbas em benefício do Ensino de Terceiro Grau já a partir dos Governos Militares e até os tempos atuais. Isso é o que até hoje estratifica e veda as classes médias, mais baixas e às mais baixas ainda o acesso às carreiras de maior importância social e econômica.
                                      
                                         Hoje “carreira feita”, após 40 anos de graduado, consegui dar-me ao luxo de “buscar o bolinho de ovo ideal”, que não se encontra mais no cardápio dos petiscos dos bares centrais paulistanos, mas que certamente encontrarei na “periferia” de onde saí.
                                        
                                        Sempre celebro os dias difíceis comendo bolinhos de ovo e pratos imensos de arroz e dois ovos nestes novos tempos de “privilegiado”, pois é a primeira coisa, que vem à cabeça ao caminhar pelo Centro da Cidade, hoje sem glamour, sem aquela turba caminhando, sem mensageiros apressados e sem o “encanto da minha juventude”...

  

Das percepções e pesquisas de
Antônio Figueiredo – Entre Algum Lugar entre a Bahia e São Paulo
Economista, Escritor, Empresário, Militante Apartidário Parlamentarismo e Voto Distrital Puro. Ex - Ativista Movimentos Sociais Católicos/ Metalúrgico/ Estudantil (1961/73). Operário da Cidadania
 
 
 

terça-feira, 20 de maio de 2014


Valéria Fernandes de Goiânia
Para a Sala de Protheus:

 

 
"Segurança Pública!"

 


 
“... Minha definição de sociedade livre é aquela em
que se pode ser impopular com segurança....!”.

Adlai Stevenson

 


                                           A inércia do poder público, em relação a falta de segurança, é um desalento a sociedade que já se arrastam de longas datas.

                                            Segurança pública, saúde, educação, sempre foram os alvos, como prioridades, nas campanhas eleitorais, que nunca passaram de falsos discursos, promessas milagrosas.


                                           A falta d segurança é um conjunto de fatores que requerem soluções rápidas e eficazes. É preciso que haja planejamentos de recursos, para serem executados, ao menos minimizando a violência.
Artigo 6o d CF: (Constituição Federal) diz:

Segurança é direito do cidadão e dever do estado.

                                          É preciso mais investimentos em infraestrutura, em delegacias, viaturas, armamentos e mais efetivos na polícia, possibilitado através de concursos públicos.
Que haja mais policiamento efetivamente nas fronteiras combatendo o tráfico de drogas e de armas.

                                        O CP- (Código Penal) já se arrasta desde 1940, precisa ser repensado e estipulado mais de acordo com nossa atual realidade.
Leis que deveriam resguardar mais o cidadão de bem, enquanto que na maioria das vezes, favorece o meliante.  Hoje na sociedade os crimes com maiores atrocidades são do "Menor Infrator". Os “pseudos" menores, que são amparados pelo o ECA -(Estatuto da Criança e do Adolescente) - Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990 -,é um ordenamento Jurídico, que tem como objetivo e proteção integral do "Menor" e ressaltando que a Lei, dá-se o direito do menor a votar. Mas protege em não pagar pelos seus delitos.












                                     Hoje a violência tem sido uma verdadeira guerra civil; vidas sendo dissipadas e nenhuma providência eficaz do poder público para coibir os crimes que assolam a sociedade.  

        
                               Hoje o Brasil está no ranking entre Países mais violentos.
Mas a violência e a miséria, precisam ser atacadas com a ferramenta chamada "EDUCAÇÃO". Se o poder público não investir no ensino de qualidade, fundamental e superior, continuarão os índices de analfabetismos.


A pobreza e o analfabetismo gera sempre uma polêmica, que os próprios especialistas jurídicos e psiquiatras acreditam que haja uma relação aos crimes.
O maior desafio dos 200 milhões de brasileiro é driblar a violência para continuarem vivos. A segurança pública no Brasil é direito de todos e responsabilidade da União, Estados e Municípios.


Para Valéria Fernandes Pensar em Segurança... Não dói!
E você?



Dos Entendimentos & Compreensões de
Valéria Fernandes
 Consultora Política
 Goiânia- GO