quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

" Leitores ou Birutas?"




 “... Porque a todos é concedido ver,
mas a poucos é dado perceber (...).”

 Nicoló Maquiavelli

                             Aprecio o que escreveu o argentino Jorge Luis Borges. Adorei aprender a “ler” com suas histórias. Ele gostava de dizer que se o escritor não levasse o leitor para o contexto nas primeiras páginas, o livro não merecia ser lido. Tenho-me feito esta pergunta quando preciso de alguma informação sobre algo. Televisão, jornais, revistas, ou virtualmente.
Borges afirmava: (...) Sem leitura não se pode escrever. Tampouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da linguagem (...).
Neste aspecto, acredito estamos nos tornando “birutas”. Sem a pejoratividade, por favor. Biruta é aquele aparelho utilizado nos aeródromos ou mesmo na marinha, para saber a procedência dos ventos. De outra forma, quero dizer, com isso que, com o que recebemos, diariamente, da dita “imprensa”, seja de que tipo for, estão ou estamos nos tornando “birutas”,ou simplesmente desaprendemos a pensar por nós mesmos.
Você já reparou em qualquer tipo de imprensa que possuímos hoje, se eles erram em alguma coisa o que fazem? Apenas um pequeno rodapé (noticia minúscula no pé da página) nos casos de jornais, ou um: “... na edição de ontem erramos o nome de fulano ao chamarmos de sicrano”. E o que mais?

Acreditamos em tudo o que ouvimos, vemos ou lemos. Não acredita nisso? Experimente colocar em canais de televisão, horário de noticias, por favor, o resto deixo para seu gosto definir o que assistir, diariamente: Somente o lado “cão”, na linguagem jornalística, o lado pior do mundo e do dito “ser humano”. E isso vende.... Dizem eles. Se vende, alguém lê,ouve ou assiste... Logo...

Há algum tempo atrás isso seria chamado de “cortina de fumaça”, algo feito, para, na verdade, esconder, de fato, o que esta acontecendo. E tudo funciona em nome da tal de “receita, audiência, tiragem” e, agora na internet, em número de páginas sobre o assunto.

Então coloque, por exemplo, já que esta lendo isso em um blog, de fato, em alguma página de busca ou pesquisa, no computador, uma pergunta sobre “mortes no trânsito”: em menos de 0,26 segundos, certamente aparecerão mais de duas mil páginas sobre o assunto.  Sim, eu disse duas mil páginas, de jornais, blogs, revistas e outras “cositas mas” da tal de internet. Algumas, certamente, impublicáveis. 

Não satisfeito? Assista somente três noticiários, tenha paciência, somente até começar o assunto depois pode desligar, ou então, não precisa comprar (só não deixe o dono do local perceber) pegue três revistas consideradas sérias (ainda temos esse numero no Brasil, não se preocupe), e tente descobrir se em nenhuma delas há o assunto. Se conseguir vai ganhar um sorvete. Ops: perdão, um chimarrão aqui do sul ou então um chocolate quente, ou ainda um café – da Bahia é claro -.

Este é somente um exemplo de como nos direcionamos a favor do vento. Igual às Birutas. Talvez venha daí a pejoratividade: “tu tá um biruta hoje”, ou seja, vai para onde o vento te levar, ou pensa de acordo com qualquer opinião que ouça leia ou veja.

Os antigos gregos, artesãos do bom senso (tudo que é razoável, sábio, inteligente) nos diriam para começarmos a pensar um pouco mais sobre tudo. Principalmente sobre o excesso de informações que possuímos, hoje, e não sabemos, exatamente, o que fazer com elas.
E quando a dita “imprensa” faz de tudo, apenas pela “receita” (faturamento) ou pela audiência, ou vendagem dos impressos, ou páginas na internet, nos ofende; está no fundo escondendo, o que está de fato acontecendo, e na pior das hipóteses está nos chamando além de birutas, de babacas sem cérebro, (agora sim pode colocar a pejoratividade) que  ainda não aprendemos a pensar por nós mesmos.

Dificuldades? Muitas. Jornais seriíssimos, televisões abertas (por favor, retire da lista as religiosas, que são em grande maioria), revistas em mesmo nível?
Viu como as respostas vieram rápidas em sua mente! Pouquíssimos (ou as).
O restante é quantidade. Nada de qualidade ou pensamento profundo que nos faça ficar alertas sobre a leitura, como fazem os livros de Borges, ou então sobre grandes literatos brasileiros. Não os cito por serem desconhecidos pela grande maioria. Portanto palavras dispersas.
Ler (tirando todos os erros da língua, principalmente na escrita, que é uma tragédia nacional) já é uma dificuldade incrível para o brasiles. Mas o que esperar do brasiles, cuja média anual de leitura é de 4 livros, porém, apenas 2,1 até o seu final. 
Em tempo: As mulheres leem mais que os homens. Como dizia Nelson Rodrigues: “... Somente o profeta enxerga o óbvio...!”.
No fundo, ao menos aqui, parece, estamos descobrindo que ler e pensar não dói...



Entendimentos & Compreensões
Esta Crônica foi publicada na sexta-feira, 25.01.21013
 abre.ai/Konvenios 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Perdão Santa Maria - Mea Culpa de um Brasiles - !"




"... Pássaros cantam após a tempestade,
por que as pessoas não podem se sentir livres
para se deleitar no pouco e sol que lhes resta...!"

dos pensamentos de R. Kennedy


É fácil pedir perdão. Basta falar.
É muito difícil pedir perdão para seres que ficaram. Partes deles se foram.
Mas, como brasiles, eu preciso, necessito, para manter ao menos um pouco de consciência, eis que dela se alimenta minha essência de ser humano.
Por isso peço. A cada um dos Santa-marienses e de todos os locais onde moram seres ligados aos seres que se foram.
Perdão!
Perdão, pois como brasiles, não cobrei antes. Não previ o mínimo para manutenção de meus irmãos.
Perdão por pensar agora nas providências. Sei que para todos vocês é depois.
E nada muda. Nem a dor.  Nem a saudade.
Perdão por ter ficado ausente e não ter verificado que nossos homens públicos estavam mais ausentes ainda.
Perdão por nossos fiscalizadores terem falhado e não pensado nos seus filhos.
Perdão por não termos segurança necessária para que suas irmãs e namoradas pudessem divertir-se no melhor de sua juventude.
Perdão, pela ganância de ditos “empresários”, eis que somente o dinheiro lhes interessa.
Perdão por não ter contribuído e fiscalizado os políticos, eles sim, eleitos e administradores da vida pública.
Perdão por não ter cobrado anteriormente que eles fizessem valer a lei para que nossos filhos estudem e se divirtam em nossas próprias cidades.
Perdão se somente agora todos aparecem. Sim, perdão pelos abraços de governadores e presidentes, deputados, prefeitos, vereadores e todos aqueles que vocês pagam os salários. E ficam nas "luzes", enquanto a escuridão toma conta de cada um.
Perdão Santa Maria.
Perdão por terem pseudos jornalistas e repórteres lhes perguntando em meio ao desespero “como estavam se sentindo”.
È minha culpa, como brasiles. Por isso peço-lhes, se puderem, um dia, perdoem-me por não ter verificado que tudo estava errado e que deveria ter-lhes dito: Não liberem seus filhos. Guardem-nos em casa embaixo de sua proteção divinizada. Aqui fora não temos condições de cuidar deles.
Perdão por cobrar-lhes tantos impostos e taxas, e fazê-los trabalhar tanto para dar uma faculdade para seus filhos.
Eles agora não precisam mais se formar. Estão formados.
Perdão se agora somente posso rezar. E peço ajuda da minha amiga Mirna Cavalcanti, lá do Rio de Janeiro, para orar comigo: Ela que escreveu homenageando cada um de vocês: Triste, oremos pelas almas dos que cedo partiram. Que Deus sustente os que aqui ficaram com a saudade da perda de seres que amavam.
Perdão Santa Maria. Mas agora não deixaremos que existam outros como vocês.
Não deixaremos que outros chorem. Que outros tenham partes deles retiradas.
Não deixaremos e faremos o que não fizemos antes.
Cobraremos, exigiremos, fiscalizaremos, estaremos tal qual águias em cima de cada um que tiver cargo público ou responsabilidade.
Estaremos de olhos firmes e justos, retos, fraternos, mas aguçados para empresários metidos a gananciosos que pagam, que subornam, que traem a própria espécie.
Perdão pelos idiotizados que fizeram manchete de suas tragédias e de suas tristezas.
Perdões se fizeram com vocês estatísticas ou números de audiência ou para venda de alguma coisa.
Por Favor, Perdão Santa Maria.
Neste início de semana, saibam, dói tudo, dói pensar, dói lembrar, dói apenas imaginar o que estão sentindo... Longe de saber exatamente.
Perdão Santa Maria.
Que ele, em sua infinita misericórdia, que tudo arquiteta e sabe neste universo, seja piedoso com cada um de vocês. Pois cada um dos que foram agora são anjos divinos. E Iluminarão vocês.
E iluminarão cada um de nós, culpados.
Choramos juntos. Todos. Com cada um de vocês...
Perdão!
Meã Culpa!

Dos Sentimentos da Madrugada
De uma semana trágica no Rio Grande do Sul!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

" A Lenda dos Porcos Assados!"


#Cidadania:

" A Lenda dos Porcos Assados!"

        “... Há quem passe pelo bosque e
só veja lenha para a fogueira..."
                      Léon Tolstoi – 1898 -


                          

                                  Para quem gosta das complexidades do complexo ser humano nada melhor do que a fábula dos Porcos Assados: Ela vale para qualquer situação, instituição – principalmente – e para os seres que já aprenderam que: Pensar não dói...!
Há muitos séculos atrás, quando os indivíduos não tinham preocupações mais sérias, sobre tudo ao seu redor - foi nesta época que se inventou a mesquinhez das frescuras públicas - após um dia que amanheceu bonito veio uma tempestade. Dela surgiram trovoes e raios, sendo que um deles iniciou um incêndio em uma das tantas florestas que existiam naquela época. Também nesta época, os criadores de porcos, criavam-nos livres sobre as matas e quantos mais passeavam, mais engordavam, principalmente aos olhos do dono.
Deixa estar que sob este temporal, e a floresta aturdida pelo temporal, e através de um destes raios, começou a queimar. E a queima, durou muitos dias, destruindo uma grande parte da floresta. E sob esta floresta, eis que padeceram assados, ou queimados vivos, muitos e muitos porcos. Seus proprietários, e demais habitantes, para não perder toda aquela carne, resolveram experimentá-la, visto que somente conheciam, as carnes cruas, ou estorricadas sob o sol e nada mais.
Eis que após o farto banquete carnívoro, apeteceu-lhes com a ideia, de que desta forma, a carne era muito mais saborosa, e decidiram: deste momento em diante não mais comeremos carne crua, ou salgada e estorricada sob o sol. Desta forma cada vez que queriam comer carne assada, incendiavam partes da floresta, e deliciavam-se com os novos petiscos por eles inventados, sob a bela ideia dos deuses. Para isto foram criados departamentos especiais como - Departamento de Incêndios na Floresta para Comerem Porcos Assados que atendia pela sigla DIFCPA - e muitos outros departamentos de onde se imagina surgiram as primeiras formas de organização pública para as sociedades primitivas, sendo que a maioria delas perdura, até os tempos atuais.
No meio de tudo isso, é claro, sempre surgem também novas ideias, afinal com todo este progresso que acabaram conseguindo, ou conquistando também é natural que surjam outros sábios indagadores, sobre novas formas e tentativas de progresso para o BEM COMUM, e a satisfação geral de uma sociedade. Nesta época, um jovem promissor, põe-se a pensar sobre estas novas fórmulas. E teve a brilhante ideia: se sobre o fogo, a carne, assava, ora então não era necessário, a cada vez que queria comer carne assada, incendiar uma floresta. Inteligentemente ocorreu-lhe que bastava pegar alguns galhos caídos da floresta, ou cortar pequenas árvores, transformá-las em lenha, pôr fogo, e tinha-se o necessário para um belo assado, sem maiores alardes e outros perigos que um incêndio representava. Achou sua própria ideia magnífica, e decidiu: iriam procurar o Departamento de Incêndios da Floresta... Para propor-lhes tal atitude, e quem sabe com isso ganhasse, até uma recompensa por sua sabedoria. Foi procurar o Administrador geral e contou-lhes sua brilhante ideia e o que era necessário para por em prática. Porém ficou aturdido com a resposta recebida do Administrador Geral, que foi mais ou menos assim:
- Quer Vós destruir tudo o que levamos séculos para idealizar em nome do nosso progresso, em nome do melhor para nossa sociedade? Propunha-vos que desmancheis, inutilizeis tudo o que foi criado para uma ideia tão simples? Respondei-me, o que farei Eu, com o Chefe do DIFCPA, o que farei Eu com todos os funcionários deste departamento, e todos aqueles que Dele dependem? Ora, caro amigo, saiba Vós que admiramos pessoas sábias que nos trazem belas ideias, mas isto é ridículo. Afinal não podemos simplesmente desmantelar todo um sistema organizacional, brilhantemente criado, para termos em seu lugar, apenas uma ou duas pessoas fazendo o mesmo serviço. Ide e continueis a pensar, quem sabe da próxima vez, encontreis uma ideia mais sábia para nos trazer. Passai bem amigo.
Portanto, após a breve história acima, É ÓBVIO, que é impossível atravessar uma multidão levando a chama da verdade sem queimar a barba de alguém.Também É ÓBVIO que enxergar o que temos diante de nossos narizes exige uma luta constante.
A história acima é também para pensar, iniciando a semana, e tentando enxergar quantos Departamentos de Incêndios em Florestas para Comermos Porcos Assados, existem por aí, em todo o lugar, em todo tipo de pseudas administrações.
Isto nos leva a lembrar de o que disse no século passado, o linguista Polonês Alfred Korzybski: “... existem duas maneiras de passar pela vida sem problemas: acreditar em tudo ou duvidar de tudo; de ambos os modos se evita pensar.".
E nós já descobrimos que Pensar não dói...






Entendimentos & Compreensões
Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado originalmente no grupo Kasal - 

Konvenios - Vitória - ES.
Origem:
Esta síntese da fábula surgiu no Brasil na década de 70, de Gustavo Cirigliano quando a General Motors, comprou os direitos dos Motores Velko, que seriam movidos à água.
Alegoria ao sistema de petróleo e a indústria de automóvel mundial.
Primeira publicação em 1997

Aquivos da Sala de Protheus

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

" O Quartinho dos Fundos!"

"O Quartinho dos Fundos!"
“Atualmente encontramos pessoas que
 se comportam como autômatos, que 
não conhecem ou compreendem a si 
mesmas, e a única pessoa que conhecem 
é a pessoa que se espera que ela seja cujo palavreado, sem sentido, substitui a 
palavra que comunica cujo sorriso artificial 
substitui o sorriso original e cujo sentimento 
de monótono desespero tomou o lugar 
da verdadeira dor.”

Erich Fromm

Toda casa que se preze, tem o seu “quartinho dos fundos”, ou o sótão, ou um porão. 
É lá que empilhamos tudo o que julgamos não precisar. Aquela velha caixa que “um dia”, podemos precisar um pequeno eletrodoméstico duplo ou que não funciona mais e que acabamos por pegar um determinado “amor”, e ficamos penosos de nos desfazer.
A bicicleta, que não é velha, mas que ninguém mais anda. O aspirador que não é mais usado. E todos dizem: “que pena jogar fora”! Um dia poderemos precisar? Não é mesmo? E assim vamos entulhando, neste pequeno local, tudo o que não nos interessa mais, mas mesmo assim queremos preservar. Não sabemos para que! Mas guardamos.
Lá se vão, depois, os velhos álbuns de fotografias. Os velhos livros que não lemos mais. E a lista é tão intensa quanto os entulhos, que somente não colocamos mais pela absoluta falta de espaço.
“E sempre dizemos a mesma coisa:”... Neste final de semana não assumirei nenhum compromisso, vou limpar meu “quartinho dos fundos”! Do final de semana que se torna conturbado, com tantos afazeres e agenda social, deixamos para o primeiro dia de folga que conseguirmos tirar, ou para aquele feriado que ainda vai vir.
E o quartinho?
Permanece intocado, com todo o seu entulho, poeira, emoldurado por lindas teias de aranha. 
O ser humano é exatamente assim. Coloca entulhos em seu “quartinho dos fundos”, localizado em algum canto de seu inconsciente.
Lá vão todos os casos fortuitos, ou nem tanto, resolvidos ou não resolvidos no passar dos dias. Geralmente as mágoas têm lugar certo. Os ressentimentos são colocados no canto esquerdo. Já no canto mais a direita, logo acima das mágoas, fica o lugar para as culpas. A raiva, na maioria dos “quartinhos”, tem o maior lugar, é como se fosse uma velha “motocicleta” que não tem mais peças.
Nas prateleiras de cima vem ainda: as carências, um amor não resolvido, ainda! Uffa! Ouvimos assim: “mas eu vou resolver”, só preciso de um tempinho para mim! Calma! E o resultado? Mais um entulho para o quartinho dos fundos. Stephen Covey, quando analisa dos hábitos das pessoas, diz: “... torna-se, então, a partir de um desequilíbrio irremediável, a recitar falas do texto do equilíbrio, da vida, dos amores, mas na verdade seus mandamentos são escritos nas frágeis tábuas carnais de seus rancores.”. 
Na verdade uma ação dos famosos cinco esses, poderia ajudar o Ser a vasculhar seu “quartinho”, e começar a fazer uma seleção do que realmente necessita ou quer guardar que ainda não está resolvido, e que gostaria, em um futuro próximo de resolver. Após ir para um descarte. Sim, descartar o que não presta o que não serve mais, o que somente polui a mente consciente, as ações diretivas que tanto precisamos no dia a dia. E este descarte necessita ir diretamente para a incineração, pois não existe reciclagem de tais “entulhos negativos” da consciência.
De outra forma, não necessitamos, necessariamente, de um “quartinho nos fundos”, que sirva apenas para entulharmos ações não realizadas, sonhos desfeitos, mágoas, muitas culpas, raivas e outros materiais não recicláveis, não utilizáveis, e com resultados nefastos para o ser.
A busca da comunicação com o próprio eu, tem sido incessante pelo individuo.
E isto faz tempo. Enriquez, em seu Ensaio de Psicanálise, afirma: “Toda comunicação é sempre parcial, principalmente conosco mesmos, e mesmo tendenciosa em razão dos mecanismos de repressão, clivagem, necessidades de autoproteção – na maioria das vezes falsa – e de transferências negativas, que podem estabelecer-se em relação a objetos ou ações desenvolvidas pelo sujeito (...) o que é possível, pela própria obrigatoriedade de se viver e trabalhar, antes dos outros, consigo mesmo, torna-se também, uma tentativa arriscada e retomada quotidianamente de uma comunicação que não choque, nem confronte os mecanismos de autossegurança, narcisismo e as necessidades de identidade do individuo, ou seja, que estabeleça um equilíbrio entre o reconhecimento desejado e o desejo de se fazer reconhecer de cada um...”. 
Desta forma, vamos, aos poucos, limpando nossos “quartinhos nos fundos”, e deixando que o ar puro passe pelas janelas abertas de nossa alma, e que possamos, com isso vivermos melhor. Primeiro conosco mesmo. O resto virá automaticamente. Afinal, Pensar Não Dói...

Obs.: O artigo foi baseado em comentários proferidos,
durante Curso de Comunicação,
 pela Executiva Leandra dos Santos – Toledo – PR.


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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

" Ética?"


Ética?



“... Serei eu como acredito ser, ou como os outros acreditam que sou?”.Aqui é onde estas linhas se tornam uma confissão diante da ignorância e do desconhecido para mim mesmo. Aqui onde eu crio a lenda onde me enterro...”“.

 dos pensamentos de Miguel de Unamuno


Este planeta é testemunha de tantos sons de batalhas, de agonias e de escárnio que todos sentimos que está chegando o momento de parar. O que o homem criou deverá ser freado somente pelo homem.  Já tivemos tempo suficiente para concluir que não podemos esperar mais que os deuses desçam das montanhas ou de suas nuvens pra nos salvar. A solução está em nós – dentro de nós, bem lá dentro...
O problema mais grave que afeta a humanidade não tem causas exteriores a ela, mas sim intrínsecas a todos nós. O advento do desenvolvimento da inteligência na espécie gerou a possibilidade de criarmos a ciência e a tecnologia. Essas filhas de todos os homens desenvolveram-se rapidamente, deixando para trás o que deveria ter ido à frente: um desenvolvimento ético e moral. Nesse campo ainda estamos nas cavernas: pobres “Neandertais”!
Os mais graves problemas que a humanidade apresenta poderiam ser resolvidos com uma maior evolução da ética interna a nós mesmos. Os discursos religiosos são moralistas, e todos são éticos, mas, após acabarmos nossas orações, vamos roubar frutas no pomar do vizinho, tentar burlar um empregado ou o governo.
Os governantes teriam de ser  “síndicos” dos países. Não deveria caber a eles assistir, mas sim criar condições pra que o trabalho, de cada um, possa assistir a sua família. Não é papel do “sindico” dar, mas criar a possibilidade para que cada um possa ter e, mais importante, possa ser. Quando cada um dos homens tiver consciência de que Ser é mais importante do que Ter, a humanidade não mais terá ética, mas, sim será ética...
É necessária, para compreendermos um conceito, a existência de seu contrário:  “um peixe”, nos ensinou Einstein, “não sabe que existe o ‘não oceano’, é preciso que um pescador o tire da água, mas aí é tarde demais ...” Esperamos que deixemos de conceituar ética por estarmos tão imersos nela que seriam impossível à compreensão de uma humanidade não-ética.

Em seu espaço, meu amigo gaúcho/catarinense, Jesus Arthur Barbosa, http://jabsrs.blogspot.com.br, fala sobre o Apagão da Ética. Sua alegoria ao momento atual, vívido para o Brasil, é uma forma de manifestação de que ela, a Ética, está e significa para nós e deve continuar sendo superior a tudo. Sem ela não somos nós. E não existimos como ser e como povo. A sociedade necessita disso. Gostem alguns ou não.
Depois da posição de meu amigo, de novo divinizado,  afirmo-lhe que  sou a última pessoa que você procuraria por um conselho sobre ética,o que significa que você já perguntou a todas as outras pessoas. Ninguém lhe deu a resposta que você queria.
Isso acontecerá um dia, esperamos. Um dia não mais existirá um Hitler para cada Gandhi. E esse dia chegará quando todos souberem “por quem os sinos dobram, eles dobram por” nós. Basta lembrar, sempre, que  “Pensar não dói...”.

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Leituras & Pensamentos da Madrugada

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

" Inquietações!"




“... Se existe um caminho para o Melhor,
ele exige uma visão completa do Pior...!”

 dos pensamentos de  T.Hardy


Quando desejo perdoar o próximo o que significa?
Significa que desejo perdoar a mim mesmo.
Quando desejo ferir o próximo o que significa?
Significa que desejo ferir a mim mesmo.
Feche seus olhos. E pense no mundo como ele é visto do espaço.
Daquela distância ele é calmo. Silencioso. Pacífico. Único.
                                                   Devíamos tomar cuidado com o poderoso apego exclusivo a outra pessoa; ele não é como algumas pessoas pensam evidência da pureza do amor. Esse amor encapsulado, exclusivo – alimentando-se de si próprio, não dando nem se importando com os outros -, está destinado a desmoronar sobre si mesmo. O amor não é apenas uma centelha de paixão entre duas pessoas; há uma distancia infinita entre se apaixonar e permanecer apaixonado. Mais propriamente, o amor é um modo de ser, um “dar a”, não um “enamorar-se”, um modo de se relacionar como um todo, não um ato limitado a uma única pessoa. Freud afirmava: Ternura é um resultado de sublimação da energia.
                                                  É como a busca de significado. Essa busca é muito semelhante à busca de prazer, O significado resulta da atividade significativa: quando mais o procurarmos deliberadamente, menos provável será seu encontro. As perguntas racionais que alguém pode fazer a respeito do significado sempre excederão as respostas.
                                                        Um dos grandes paradoxos da vida é que a autoconsciência provoca angústia. A fusão elimina a angustia de modo radical – eliminando a autoconsciência. A pessoa que se apaixonou e ingressou em um bem aventurado estado de fusão não é autorreflexiva, pois o eu solitário questionador (e a concomitante angustia do isolamento) não se dissolve no nós. Assim, a pessoa se livra da angústia, mas perde a si mesma.
Alguns filósofos imaginam muito mais; que a arquitetura da mente humana torna cada um de nós responsável pela estrutura da realidade externa, pela própria forma do espaço e tempo. É aqui, na ideia da autoconstrução, que reside a angústia; somos seres que desejam estrutura, e ficamos amedrontados ante um conceito de liberdade que afirma que embaixo de nós não existe nada, apenas pura falta de fundamento.
Ainda assim, ”todas as coisas”, nas palavras de Spinoza, “lutam para persistir em sua própria existência”. No âmago de cada pessoa há um eterno conflito entre o desejo de continuar a existir e a consciência de algo inevitável, como a morte, principalmente, como resultado desta angústia.  
E isso pode nos levar a um pesadelo que é um sonho mal sucedido, um sonho que, por não “manejar” a angústia, falhou em seu papel de guardião do sono. Embora os pesadelos defiram no conteúdo manifesto, o processo subjacente de todos os pesadelos é o mesmo: a pura angústia da perda ou da morte escapou de seus guardiões e explodiu na consciência.
Perante qualquer situação, principalmente a de uma paixão, racionalmente, sabemos que o passo crucial é a aceitação da responsabilidade por nossa própria condição de vida. Na medida em que acreditamos que nossos problemas são causados por alguma força ou entidade fora de nós mesmos, não há avanço em uma resposta racional e consciente. Afinal de contas, se os problemas estão fora, por que acreditaremos que poderemos modificar? É o mundo externo (amigos, trabalho, companheiros, cônjuges) que devem modificar-se – ou trocados.
Claro que algumas pessoas têm desejos bloqueados, não sabem o que sentem nem o que querem. Sem opiniões, sem inclinações, elas se tornam parasitas dos desejos dos outros. Essas pessoas costumam serem cansativas e enfadonhas. Ou quem sabe nós somos assim?  Nietzsche afirmava: que em uma condição de angústia, ou de paixão incontrolável, era necessária uma abstinência higiênica; assim mantinham-se os sentimentos originais. A racionalidade era alimentada mesmo que inconscientemente resultasse algo. É o caso específico, como gosta de salientar meu mestre em Língua Portuguesa, professor Ironi Andrade: Eis aqui algo que com a consciência que comando, tenho certeza, mas com a inconsciência que me comanda, não tenho tanta certeza.
Por isso podemos pensar. Afinal, ainda, não dói!

Entendimentos & Compreensões
Publicado no Sul, Bahia e ES.
Crônica que originou o PPS Apego do sitio www.viverearte.com.br

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

" Os Infelizes Felizes!"



- ou Síndrome de dr. House * 

“... Em toda adversidade do destino,
a condição que gera mais infelicidade
é o fato de se ter sido feliz.. !”.

by  Boécio – Filósofo latino – 480-526 –
O consolo da filosofia, II,4 .

O que nos faz infeliz? Ou porque a felicidade dura tão pouco?
E o que é felicidade? Porque nos parece mais fácil definir a infelicidade?
Um é causa. A outra consequência. O autor do seriado estadunidense Dr. House, criou um personagem que define, em nosso tempo, o que o ser humano conhece desde os primórdios. Na Homilia ao povo da Antioquia, XVIII, 4 o padre São João Crisóstomo, 345-407, iniciava dizendo: “...Ninguém pode nos fazer infelizes, apenas nós mesmos...!”.
Desde os heróis gregos, da Ilíada de Homero, todos foram infelizes e morreram infelizes. Maquiavelli, Shoppenhauer, Nietzsche.
Bem, este último deve ser o preferido do autor do seriado, pois é citado em quase todos os capítulos.
Mas o que tem a ver Dr. House, sua infelicidade e a nossa?
Tudo.
Em Os Miseráveis – Victor Hugo, de 1862 - como ópera, depois como filmografia dizia, à forma da época, através da pobreza, dos miseráveis o que era infelicidade. E como desta forma, eram felizes. Ao mesmo tempo. Antagônico? Não. Realista.
Em quase toda genialidade há infelicidade. E rima. Nietzsche foi um gênio infeliz, e o fazia escrevendo. “... As palavras são como fazer amor....!”. Algo que ele somente foi fazer, no sentido biológico depois dos 35 anos. O personagem do seriado é um gênio na área da medicina, em diagnosticar. Não quer ver pacientes. Apenas analisa informações. Racionalidade. Exagerada para alguns. Apenas realidade para outros.
Tenho amigos Dr. Houses. Muitos. Correspondo-me com eles. Amo falar com eles. Uns escrevem. Outros pintam maravilhosamente. Outros tratam de pequenos animais e crianças. Outros fazem de instrumentos musicais verdadeiras sinfonias divinas. Outros ensinam de maneira muito diferençada da grande maioria. Até são considerados rudes e grosseiros. Outros são gênios em sua área de trabalho. Destacam-se em uma área profundamente. São conhecedores da própria alma. Todos já tiveram uma grande paixão. Todos já tiveram um grande sofrimento. E deles fizeram sua arma de criação de “seus mundos”. Muito diferençado da grande maioria. Eles acabam ajudando mais do que os “bonzinhos”. E não querem recompensa. A recompensa esta na manutenção da infelicidade feliz. Não querem ser iguais a ninguém. São únicos.
Os ditos “normais” os chamam de infelizes. Assim como Dr. House. Porem tem dificuldade em verificarem suas próprias realidades. Geralmente tem inteligência acima da média. Tem problemas de relacionamentos. Se tiveram família, duraram pouco. Se tiveram uma paixão, durou menos ainda. Não conseguem manter.  Suas mentes buscam sempre mais e mais. Não querem a rotinização. Não querem o igual todos os dias. E se fixam em seres parecidos, porem, que em seus julgamentos estejam acima de suas próprias capacidades, inteligências. Ignoram o restante. Não vivem apenas para os outros.
Kierkegaard escreveu em 1849, sua obra "Desespero Humano - Doença até a Morte", no qual o filósofo procura refletir sobre o significado do desespero, ou melhor, dos desesperados, dos infelizes e como podemos lidar com eles de uma maneira otimizada para a nossa existência, questionando:                                                                                                  
“... Será que o desespero advém exclusivamente de acontecimentos externos/ Serão tais situações que nos fazem desesperar? Será a influência do meio externo que esmaga os nossos horizontes para a visualização da felicidade?...”.
Responde? Não. Continuam infelizes felizes. Não querem mudar. Esta é sua realidade, sua concepção de mundo. Não tem medo da morte. Aliás, se possuem medos eles estão muito bem escondidos. E são racionalizados, profundamente. Assim a sua quase inexistência. Psicanalistas tentam buscar em nossa criação através das relações com nossos pais. Justificam apenas. Não explicam. E os Infelizes felizes, não querem explicações. Não as que todos julgam ter. Eles têm as deles. Pronto. Farão os que os “normais” fazem, mas não da maneira dos “normais”. E isso os torna diferençado dentro de nossa própria realidade. Eles acabam fazendo mais por muitos do que todos os bonzinhos juntos. Então para que explicações?
Para muitos Dr. House é infeliz e viciado em uma droga farmacológica, devido as dores físicas, ocasionadas por um derrame muscular, em sua perna. A dor física como motivo para a infelicidade. Desculpas. Apenas.
Isso apenas lhe faz sentir dores físicas. Mas nada tem a ver com suas realidades de infelizes felizes. Muito pelo contrário. Eles sentem a vida presente como ninguém.
Trilussa, poeta dialetal italiano escreveu em sua Acqua e vino, Felicitá, entre 1871 e 1950: “ ... Há uma Abelha que pousa / sobre um botão de rosa: / suga-o e vai-se embora... / Em suma, a felicidade / é uma coisa pequena...!”
Mas e as relações dos infelizes felizes?
Para Freud, “...o extinto do amor para com o objeto, exige dominá-lo para obtê-lo... Se uma pessoa sente que não pode controlar o objeto ou se sente ameaçado por ele, ela age negativamente para com ele... !”.
E fazer isso é estar em contato com nossos sentimentos.
E a racionalidade não gosta muito disso.
Descobre-se, rápido demais, que o amor dói...
Por isso pensam tanto.
Afinal, ao menos, isso.... Ainda, não dói!


 *Dr. House -  Seriado Estadunidense com o ator  inglês Sir Hugh Laurie


Leituras & Pensamentos da Madrugada
Publicado no Sul na Bahia e ES.


" O Que é Ser Bom!"





“ O homem é a medida de todas as coisas, 
das que são enquanto são e das que não 
são enquanto não são...”

Protágoras de Abdera – 398 aC.

Para os primeiros filósofos gregos, o homem seria explicado pelo mesmo substrato ou pela mesma natureza ( physis)  que justificaria a existência de todos os seres. Se tudo era constituído ou proviria de água, ou de fogo, ou de átomos, também o homem teria na água, no fogo ou nos átomos as “raízes” de sua realidade física, psíquica e moral. Como  transparece claramente no pitagorismo, a ética se inseria na cosmologia. Justamente a grande revolução filosófica instaurada pelos sofistas ( sofys – saber )  consistiu na desvinculação do homem em relação à  physis universal. Certamente sob a influência das escolas médicas – que verificavam a peculiaridade de determinadas reações orgânicas do homem -, os sofistas passam a atribuir autonomia à natureza humana. Mas o humanismo que formulam apresenta-se vinculado ao ceticismo, à indiferença religiosa e ao relativismo epistemológico. Refletindo outros fundamentos, o humanismo socrático – centralizado no preceito “conhece-te  a ti mesmo”-  caminha num sentido aparentemente semelhante, mas, na verdade, profundamente diverso.
Não tem como deixar Sócrates de fora, nesta pretensiosa pesquisa do “ser profundo”, na busca da bondade do homem.
Ao que tudo indica, alicerçado em pressupostos religiosos e pitagóricos, não concebe o conhecimento humano como apenas a sucessão de impressões sensíveis – fugazes e intransferíveis – ou a criação, a partir delas, dos sinais convencionais que constituiriam a linguagem. Se as palavras são geralmente um terreno instável e uma expressão de opinião relativa insegura, é porque, segundo Sócrates, não estariam acompanhadas da consciência de seu significado. Mas esse significado, por sua vez, deveria emanar da própria alma do indivíduo, que constitui uma unidade subjacente às mutáveis impressões dos sentidos.
Na verdade, Sócrates, criou uma nova concepção de alma (psiquê)   que passou a dominar a tradição ocidental. Antes, como em Homero, a psiquê era o  “duplo” que podia se desprender provisoriamente durante o sono ou definitivamente, com a morte, mas que nada tinha a ver com a vida mental ou as  “faculdades”  da pessoa.

 Nos órficos, era o principio superior, que se reencarnava sucessivamente,  atravessando o processo purificador que a reconduziria às estrelas e a reintegraria na harmonia universal; mas, enquanto ligada ao corpo, só se  manifestava em situações excepcionais – sonhos, visões, transes.
 Já nos pensadores jônicos do século VI a C., a psiquê era apenas uma parte do todo: porção do pneuma (ar) infinito que habitava o corpo, vivificando-o provisoriamente até  escapar, como último alento, na hora da morte – como em Anaxímenesde Mileto; ou porção de fogo a aquecer e animar o corpo até que afinal retornasse à unidade do Fogo-Razão, o  Logos universal  “eternamente  vivo, que se acende  com medida e se apaga com medida” -  como em Heráclito de Éfeso.
 É a partir de Sócrates – ou pelo menos é na literatura referente a ele e que se seguiu à sua morte - que surge a concepção de alma como sede da consciência normal e do caráter, a alma que no cotidiano de cada um é aquela realidade interior que se manifesta mediante palavras e ações, podendo ter conhecimento ou ignorância, bondade ou  maldade. E que, por isso, deveria ser o objetivo principal da preocupação  e dos cuidados do homem.
Essa concepção de alma torna compreensível a tese  socrática de  que virtude ( aretê )  é conhecimento e que, por conseguinte, ninguém erra  deliberadamente. Só que aquele conhecimento nada teria a ver com  as opiniões flutuantes e geralmente infundadas. O conhecimento que Sócrates identifica à aretê é a episteme (ciência), não a  doxa ( opinião). E essa episteme  - que não pode ser ensinada – não constitui  uma ciência sobre coisas ou informações voltadas para a obtenção  de prestígio ou de riquezas: é o conhecimento de si mesmo, a autoconsciência despertada e mantida em permanente vigília. Bom é, assim, o homem autoconstruido a partir de seu próprio centro e que age de acordo com as exigências de sua alma-consciência: seu oráculo interior finalmente decifrado.

Leituras & Pensamentos da Madrugada
Entendimentos & Compreensões

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"Nossas Relações Sofistas!"




“... Amei até a loucura. O que chamam de loucura é,
para mim, a única forma sensata de amar....!

Françoise Sagan



                                 A pergunta tem-me sido feito constantemente. Como se fosse um expert de análise do assunto. Muito pelo contrário. Mas nas ultimas duas semanas, coincidência (não acredito nela) ou não a pergunta veio em cascata: O que esta acontecendo com as relações? Minha singela resposta: Nada!
Sim. Não esta acontecendo nadinha. Sempre foram assim ou piores. Então o que esta mudando? E quem disse que esta mudando?
Devido à libertação, conquistada, do pensamento feminino? Não. Pois as relações homosexuais também têm problemas nas relações. Você poderá dizer: Ah, mas com eles, os homosexuais, são muito menores. Claro. Eles também são em menor numero. Ao menos os oficiais.
Mas vamos por outro caminho.
Você sabe o que é sofismo?
 Sofisma - fazer raciocínios capciosos. Em filosofia, é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às próprias leis. Também são considerados sofismas os raciocínios que partem de premissas verdadeiras ou verossímeis, mas que são concluídos de uma forma inadmissível ou absurda. Por definição, o sofisma tem o objetivo de dissimular, uma ilusão de verdade, apresentando-a sob esquemas que aparentam seguir as regras da lógica. Nos dias de hoje seria quase que uma falácia.
Sintetizando: O sofisma aponta para a produção de uma idéia que mistura realidade e fantasia, ou verdade e mentira, com o  intuito de conquistar o ouvinte ou o outro lado.
Mas vamos parar por aqui na escola filosófica e retornar as nossas relações.
Você já identificou que fazemos isso?
O que? O acima.
Não?
Vamos analisar juntos. Fazemos de tudo pela conquista (ambos os lados), viramos do avesso, sacrifícios enormes, e tudo o resto que cada um conhece a sua maneira.
Quando conquistamos ou queremos mudar ou o outro quer nos mudar. Já não servimos mais. Já não somos perfeitos, precisamos de alguns consertos.  E assim vai cada relação.
No fundo deixamos de sermos nós mesmos em nome do tal de amor.
 O que mudou?
Estamos nos conhecendo um pouco mais, estamos parando, mesmo que pouco, para pensar mais em nós mesmos. Adentrar nas entranhas  de nós mesmos é perigosíssimo. E um exercício para poucos. Mas alguns estão conseguindo. Outros não.
As pessoas estão se preocupando mais em ser do que ter o outro só por ter. Os amores ou são mais profundos, ou só ´fica´ , como dizem os adolescentes. Mesmo que ´ficar´ muitas vezes tenha tudo do resto de uma relação natural.E normal. Mas é do tipo – pode ser rompido a qualquer momento sem dano – Parece que eles já descobriram, mas continuam procurando o grande amor.
Em seguida vem à outra pergunta, quase grudada na primeira: Mas porque é tão difícil dar certo?
Creio que esta inserida na primeira resposta. Queremos, tal qual uma transferência lacaniana, alterar, mudar, `aperfeiçoar´  o outro. No fundo estamos transferindo nossas inseguranças, pois quem realmente precisa de uma mudança geral por dentro, em todos os sentidos, é exatamente quem tenta mudar.
Mas e depois, vem a terceira:
Calma não termina assim tão fácil:
Mas quando esta dando certo porque nos acomodamos?
Bem, creio que é retórica. Pois a resposta esta inserida na própria pergunta. Diria que é pragmático, mas você responderia que seria puro exercício de semântica. Este comodismo, na verdade, significa que, no fundo, fizemos tudo, meramente emocional. Sim. O amor é racional. Nietzsche afirmou e morreu defendendo isso. Mesmo que apaixonado. Tudo bem. Nem ele foi perfeito em sua única tentativa de relação. Imaginária, já que só existiu na sua mente.
Pode ver que quando começa uma relação, ambos, querem saber tudo do outro. Mas tudo mesmo.  O argumento: conhecer o outro profundamente. Mentira. É apenas uma forma de ver se nossos defeitos poderão ser defrontados ou pior, confrontados, sem nenhum problema pelo outro lado. Ou controle. Agora quase opositor. E geralmente vamos à busca de todos os detalhes. Outra resposta: É para não errar!
Mentira. As perguntas são feitas porque sempre foram feitas. Amamos desta forma, pois sempre vimos, presenciamos, lemos que é assim. Nunca buscamos o nosso próprio jeito.  Como diz uma mestra e amiga muito querida: Meu jeito, jeito simples, jeito imperfeito, mas meu jeito de ser. Simples.
E o que fazer quando não há mais amor, quando termina a magia, o encanto?
Se houvesse uma fórmula, acredito seria mais fácil. E automático. E mecânico. E não seriamos nós mesmos. Cada um irá como minha amiga, encontrar seu jeito. Uns precisam dizer e saberem tudo, em detalhes.  Creio que isso esta ligado a uma insegurança enorme. Outros simplesmente somem. Desaparecem. Vão lamber suas feridas, esperar seus bicos renascerem, suas penas renovarem-se e voltam a buscar mais amor. Principalmente os que têm o coração lotado. E não são todos não. A grande maioria não aprendeu a amar. Espera um pouco? Tem um jeito certo de Amar? Claro que não.
Mas não aprendemos a doar-nos, a perdoar, exceto o que a cultura religiosa (não confundir com religião) nos impregnou. Mas quando chegamos às relações não sabemos como fazer isso. Mas ainda acredito no diálogo profundo. Por isso somos sofistas nas relações. Dizemos verdades, omitimos outras e algumas mentiras, por amor, são necessárias.
  Não me venham com esta de completamente corretinhos, que o ser humano é mentiroso por natureza. Alguns apenas se controlam mais que outros. É um exercício difícil. Alguns aprendem a omitir. Pois todo mundo quer a verdade.
No fundo ninguém gosta da verdade. Mas se construirmos uma linha de respeito. Sim uma linha do tipo – até aqui você pode ir ou – ate aqui eu posso ir. O resto é meu. Minha linha de guardar, de segredos, de coisas só minhas. Minha intimidade. Minha dignidade. Se não tivermos isso não seremos nós mesmos e sim autômatos.
Nietzsche afirmava que os poderes, para qualquer coisa, estão dentro de nós. O teste de um herói (o super-homem de Assim Falou Zaratustra) é lutar contra os sentimentos de perda, superá-los, não evitá-los. Se não conseguimos é porque algo ou alguém esta nos segurando.
Então ame, do seu jeito. À vontade. Ame muito, mas mantenha uma linha só sua e não esqueça que o outro lado também terá uma linha. Quando um avançar sobre esta linha acaba. Termina. Finito. Adeus. Simples assim e não adianta ficar choramingando pelos cantos.
Então, parece-me, que o respeito ao outro esta em delimitar uma linha. Não ultrapassá-la e experienciar. Sim não tem outro jeito. Só o seu jeito Pode pensar... Não dói. Já amar...!

Entendimentos & Compreensões!
publicado no RS, Paraná e na Bahia

" O Reencontro de um Ser!"




“... Surpreende-me, sempre e cada vez mais,
o que as pessoas fazem com as pessoas....!”.
by Protheus

Um homem comete uma violência contra uma mulher. Violência. Não importa o tipo.
O suficiente para que esta mulher perca o seu tesouro mais sagrado, profundo e importante para o ser humano: Sua Dignidade.
O dito, ´homem´, esta mais para uma criatura abominável,  macho primitivo, ofensivo até aos animais que respeitam, acima de tudo as fêmeas de sua espécie.
Mas parece que isso é, um pouco natural, neste país em que os valores continuam, cada vez mais distorcidos. Esta criatura abominável faz o que faz e fica por isso, por mais esforços culturais que poucos tentam fazer. È ofensivo para nós homens. É cruel.
Mas ele ainda enfrentará o pior dos algozes, um dia, sua própria consciência. Por isso não valorizaremos seu ato mais abominável ainda, falando dele.
Isaak Dinesem diria sobre isso que: (...) Todos os sofrimentos podem ser suportados se os convertermos numa história ou se contarmos uma história sobre eles (...).
 O que nos interessa é o ser sensível chamado mulher.
O que resta para esta mulher? Sem dignidade? O fundo de um poço horrendo, chamado o infinito indescritível de o seu próprio ser. Muitas não conseguem superar isso. E as consequências são as mais horríveis possíveis de se imaginar com um ser humano. Outras seguem conselhos de amigos ou familiares e procuram ajuda. Muitas desistem facilmente.
Mas o que se traz hoje é diferente. Em parte.
Uma mulher que passou todo este inimaginável sofrimento, esta horripilante experiência, esta descida a um poço profundo de seu próprio ser, este sentimento de ausência de dignidade, resolveu seguir os conselhos e procurou uma profissional. Sim, foi buscar ajuda em uma psicóloga especialista no trato de questões, como essa: A violência contra a mulher. Penso que foi mais por sugestão do que por acreditar em um resultado. Mas foi. E o principal: Encontrou. Sim encontrou uma profissional que lhe desse o tratamento adequado ao seu sofrimento. Ao seu martírio.
Esta psicóloga esta profissional do comportamento humano, este ser que somente pode ser definido com extremada humanidade, de compaixão infinita e de uma sensibilidade profunda, além de sua percepção profissional quase iluminada.
Se existe este tipo de profissional quando precisarmos? Sim. Existe.
Após um curto período de terapia, de ouvir completamente esta mulher, de sentir o seu problema como se fosse seu, a ajudou além do que se espera de uma simples consulta terapêutica.
Quando a mulher se julgou pronta, a profissional a acompanhou a uma delegacia especializada à violência contra a mulher.
Como se fosse uma mãe, com a menina pela mão, levando-a, com coragem, com determinação para que enfrente com altivez estas criaturas abomináveis.
E lá foram as duas. A mulher e sua psicóloga.
Efetuaram o registro em um boletim de ocorrências com detalhes para que os profissionais, desta área, procedam a investigação e sigam a lei.Ponto.
Agora é com os policiais. Portanto a criatura abominável que busque a sua defesa, se é que ela existe neste mundo.
Mas o que interessa, agora, é o comportamento, fantasticamente, exemplar e louvável da profissional de psicologia. O que interessa agora é sentir que esta mulher recuperou ao menos parte de seu tesouro mais autêntico, sua parte mais profunda do Ser – sua dignidade.
Você consegue ao menos imaginar como esta mulher esta se sentindo?
Você consegue sentir alguém ao recuperar sua própria dignidade?
Sim, é difícil. Por isso chamo a atenção para ambos os seres.
Primeiro: a mulher e sua grandeza, quase natural, mas que seguiu seus instintos e foi buscar ajuda e não se sentiu envergonhada, menor, diferente. Ao contrário enfrentou o que precisava para voltar a se sentir um ser digno.
Esta é uma grande mulher.
Segundo, outra grande mulher, desta vez a profissional. Que foi além de ouvir e soltar alguns conselhos técnicos de sua área, dentro da psicologia.
Foi além ao ter empatia profunda, ao entender a gravidade da situação enfrentada por outro ser.
Foi além ao acompanhar sua cliente, eu diria quase uma amiga, mantendo a distancia entre profissional e paciente, e não deixá-la sozinha, quase como que comprovando que tudo o que ouviu e disse a sua cliente/paciente, ela estaria junto para comprovar.
Há um leigo examinando toda esta questão? Sim. Porem há, também, um ser dotado de humanidade profunda.
Houve transferência ou contra transferência, utilizando o jargão profissional da área?
Pesquisei a fundo esta questão e lhes garanto, não houve.
Pense agora como saiu esta mulher, com a cumplicidade da profissional, que ela buscou, ao sair de uma delegacia, como se tivesse dado fim a um sofrimento indescritível, apenas por que esta psicóloga acreditou nela.
Por isso busco Maquiavelli para auxiliar nesta questão: (...) A maneira mais fácil de crescer é se cercar de pessoas mais inteligentes que você (...).
Pensou?
Quanto mais estamos enfrentando um problema mais necessitamos que alguém nos entenda, nos ouça, nos compreenda. Não importa se esta mulher pagou as consultas à profissional. Isso não é mais importante. Tudo porque esta profissional foi além do que diz as regras de sua profissão, e não afetou nenhuma delas.
Muito pelo contrário, criou nova, no atendimento profissional/paciente, não só mostrando os resultados que este paciente poderia atingir, como acompanhando para comprovação de ambos.
Por isso pode-se afirmar, ainda vale a pena confiar no ser humano. Que bom que existem profissionais como esta psicóloga.
Dá pra quase sentir a alegria e transformação desta mulher recuperando sua dignidade e, por que não dizer, sua própria vida.
Acredite, o ser humano vale a pena, mesmo em meio a criaturas primitivas e horrendas.
A mais profunda admiração por este profissional. É muito iluminada.


P.S,: Mantive a discrição de nomes, em respeito à profissional e a este ser humano que recuperou a dignidade. O que importa é a mensagem transmitida disso.

Publicado no Paraná
Entendimentos & Compreensões.